Um monumento que marca o limite da fronteira entre México e EUA, em Tijuana, México| Foto: Daniel Acker/Bloomberg

Já se passou mais de um mês do prazo dado pela justiça americana para que o governo reúna as famílias de imigrantes que foram separadas ao tentar entrar nos EUA sem documentação. Apesar disso, quase 500 crianças permanecem nos abrigos financiados pelo governo americano sem seus pais, segundo documentos judiciais divulgados nesta quinta-feira (30) à noite. 

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Autoridades afirmam que o processo de reunião de pais e filhos pode levar semanas, meses ou anos. 

Quase dois terços dos 497 menores ainda sob custódia – incluindo 22 crianças "de tenra idade", com menos de 5 anos – têm pais que foram deportados, principalmente nas primeiras semanas da política de tolerância zero do presidente Donald Trump. 

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Advogados representantes dos menores estão tentando localizar os pais em seus países de origem para perguntar se querem que seus filhos sejam mandados de volta ou se preferem que eles permaneçam nos Estados Unidos para buscar suas próprias reivindicações de imigração. Ao mesmo tempo, os advogados estão tentando trazer alguns pais deportados de volta para que possam pedir permissão para viver nos Estados Unidos – uma decisão que pode acabar nas mãos da juíza distrital dos EUA, Dana M. Sabraw, que emitiu a ordem de reunificação das famílias. 

Outros pais ainda estão sendo examinados ou são inelegíveis para a reunificação porque estão sob custódia – em alguns casos, por delitos menores ou com condenação de mais de um ano. 

Autoridades do governo dizem que estão se agindo o mais rápido possível, apesar dos desafios legais e da complicada logística – incluindo dezenas de crianças que dizem que querem ir para casa para ficar com os pais, mas não foram enviadas devido a uma ordem judicial que proíbe suas deportações. 

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O governo espera reunir todas as famílias eventualmente, a menos que os pais apresentem uma ameaça à segurança ou decidam que seus filhos devem buscar asilo nos Estados Unidos. As crianças nessas circunstâncias provavelmente teriam parentes ou outros responsáveis com quem poderiam viver nos EUA, segundo as autoridades. Caso contrário, eles podem acabar em um lar adotivo de longo prazo. 

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A União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu), que lutou pela ordem de reunificação, suspeita que as crianças concordam em deixar os Estados Unidos apenas porque sentem falta dos pais e não porque se sentem seguras em suas terras natais. 

Especialistas dizem que os meses que as crianças passam longe dos membros da família podem causar danos emocionais permanentes. 

"Estou realmente preocupado com a saúde mental e o bem-estar das crianças a longo prazo", afirma Christie Turner, vice-diretora de serviços jurídicos da Kids in Need of Defense, organização que fornece advogados para crianças migrantes. "Quanto dano está sendo causado a eles?". 

Contexto

O governo anunciou a política de tolerância zero, que resultou na separação de centenas de famílias de imigrantes, em 7 de maio, argumentando que era necessário processar criminalmente os imigrantes que cruzaram a fronteira ilegalmente com seus filhos. Um clamor internacional levou Trump a encerrar a prática em 20 de junho. Dias depois, em resposta a uma ação impetrada pela American Civil Liberties Union, Sabraw parou a deportação de pais separados e deu ao governo 30 dias para devolver aos responsáveis mais de 2.600 crianças. 

O governo não tinha sistema de reunificação. As autoridades trabalharam durante semanas para identificar quais menores pertenciam a quais adultos. 

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Mais de 1.400 crianças foram reunidas até o prazo de 26 de julho. Na maioria dos casos foram liberados com seus pais em território americano para aguardar o processo de imigração ou enviados juntos para uma prisão de imigração. 

Mas o ritmo das reunificações diminuiu significativamente, deixando centenas de jovens espalhados em abrigos que custam aos contribuintes cerca de US$ 250 a US$ 750 por criança por dia. 

Reencontro difícil

Advogados do governo disseram em declarações judiciais que contataram virtualmente todos os 322 pais deportados cujos filhos permanecem sob custódia dos EUA. Mas a Aclu afirma que eles não conseguiram falar com 80 pais, em muitos casos porque as informações de contato eram "inoperantes ou ineficazes".  

Os defensores dos imigrantes dizem que o efeito das separações é fácil de observar quando as crianças são devolvidas aos pais. Em um vídeo recente, uma criança de cabelos encaracolados se esquiva de sua mãe quando elas se reencontram em um aeroporto de Houston depois de três meses e meio separados. 

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"Meu amor", sua mãe diz quando o garoto se recusa a abraçá-la de volta. "Eu sou sua mamãe". 

Ele correu para um canto e ela se dissolveu em lágrimas. 

Uma menina de 7 anos que está sob custódia em Nova York desde junho não pode parar de chorar no começo do mês quando advogados a visitaram, contou Turner.

Taylor Levy, coordenador jurídico da Annunciation House, uma organização sem fins lucrativos de El Paso que ajuda imigrantes, afirma que algumas crianças foram levadas às pressas para o Texas nas últimas semanas, pensando que voltariam a seus pais, mas apenas foram transferidas para outros abrigos, sem explicações. Outros foram reunidos com seus pais em ônibus e depois se separaram novamente –supostamente porque os pais se recusaram a renunciar ao direito de seus filhos de pedir asilo para que pudessem ser deportados juntos, segundo Levy. 

Os advogados dizem que alguns pais não tiveram seus filhos de volta por causa de delitos menores que normalmente não afetam as decisões de custódia, como um dos pais condenado por roubo quanto tinha 14 anos de idade. Em dezenas de outros casos, dizem os defensores, não está claro por que pais e filhos não foram reunidos. 

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Ficar ou ser deportado com os pais

Alguns pais deportados disseram ao governo que querem que seus filhos busquem seus casos de imigração nos Estados Unidos, porque acham que os jovens estarão mais seguros e terão um futuro melhor aqui. Esse número subiu de 139 na semana passada para 167 nos arquivos judiciais de quinta-feira. 

Kenneth Wolfe, um porta-voz do Escritório de Reassentamento de Refugiados (ORR na sigla em inglês) da Administração para Crianças e Famílias, que supervisiona instituições contratadas pelo governo para cuidar das crianças em abrigos, diz que o objetivo é encontrar um pai ou responsável para cada criança sob custódia dos EUA – não só aqueles que ainda estão separados, mas também as dezenas de milhares de adolescentes que atravessam a fronteira por conta própria a cada ano.  

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Wolfe afirma que as crianças separadas das famílias na fronteira são tratadas da mesma forma que os mais de 11.000 menores de idade que estão sob os cuidados do ORR, muitos dos quais têm parentes nos Estados Unidos esperando para recebê-los. Eles fazem três refeições por dia, lancham, têm aulas, assistência médica, acesso a advogados e telefonam regularmente para seus pais. 

"Para nossos objetivos, os serviços são idênticos aos outros", afirma Wolfe. "Uma vez que uma criança é encaminhada para a gente, ela é enviada para um dos nossos abrigos, assim como um menor que atravessa a fronteira sozinho".

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