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Queda do voo da Lion Air: falha em sistema fez piloto perder controle do avião

Representantes da Comissão Nacional de Segurança nos Transportes da Indonésia apresentam um relatório preliminar sobre o voo 610 da Lion Air durante uma coletiva de imprensa em Jacarta | BAY ISMOYO/AFP
Representantes da Comissão Nacional de Segurança nos Transportes da Indonésia apresentam um relatório preliminar sobre o voo 610 da Lion Air durante uma coletiva de imprensa em Jacarta (Foto: BAY ISMOYO/AFP)

A queda de um avião da companhia Lion Air, que resultou na morte de 189 pessoas a bordo em 29 de outubro, foram detalhadas em um relatório preliminar divulgado por investigadores nesta quarta-feira (28), mas o documento não chegou a determinar a causa do acidente. 

Em vez disso, o relatório do Comitê Nacional de Segurança nos Transportes da Indonésia observou que a companhia aérea de baixo custo baseada em Jacarta deveria melhorar sua "cultura de segurança". O relatório do comitê também acrescentou uma referência aparentemente opaca de que a companhia aérea deveria "permitir que o piloto tome uma decisão adequada para continuar o voo". 

O voo 610 da Lion Air caiu no mar de Java em 29 de outubro, logo depois de decolar da capital da Indonésia, Jacarta, matando todos a bordo. 

O acidente parece ter sido causado por uma falha no Boeing MAX 737 e uma confusão na cabine, já que os pilotos sofreram para ganhar altitude depois de uma decolagem no início da manhã em Jacarta. A tripulação, a uma altitude de apenas 5.000 pés, teve pouco tempo para resolver o problema antes que o avião mergulhasse no Mar de Java a uma velocidade de 720 km/h. 

Investigadores afirmaram na quarta-feira que nenhum engenheiro informou o piloto do avião sobre os múltiplos problemas que a aeronave enfrentou em vôos anteriores, e que cabia a ele revisar os registros de manutenção durante o voo. 

Apesar das descobertas, o relatório não aponta culpados. 

Problemas no Boeing 737 MAX

A aeronave era a versão mais recente do venerável Boeing 737, um avião que voou pela primeira vez em 1967 e passou por várias modificações antes de emergir como o 737 Max. 

Este novo modelo foi equipado com motores mais potentes que são montados mais para frente na asa. Como resultado dessa reconfiguração relativamente menor – um engenheiro de aviação poderia notar, mas o passageiro médio não iria – um software adicional foi adicionado ao piloto automático do 737 Max para fornecer mais controle. 

Esse software foi identificado no manual da Boeing como o sistema de reforço de características de manobra, ou MCAS na sigla em inglês. 

Mas os sindicatos que representam os pilotos da Southwest e da American Airlines disseram que não foram devidamente informados sobre o novo sistema durante o treinamento. 

Embora a Boeing tivesse acabado de entregar o avião para a Lion Air – eles fizeram pouco mais de uma dúzia de vôos –, já havia preocupações sobre isso. Um dos sensores de velocidade, chamado de sensor de "ângulo de ataque" no avião, foi substituído após um mau funcionamento em três voos anteriores. 

Quando os sensores novamente transmitiram dados com falha para a cabine do voo 610, o novo sistema MCAS detectou uma paralisação – aquele ponto em que um avião fica tão na vertical que corre o risco de cair – e tentou corrigir a perda percebida, repetidamente apontando o nariz da aeronave para baixo. 

 Uma característica dos modelos 737 anteriores que permitiam aos pilotos ultrapassar manualmente um processo de "corte elétrico" – que é projetado para mover automaticamente o nariz para baixo a fim de evitar uma parada, não funciona nos aviões 737 MAX da Boeing, segundo a própria fabricante explicou em 7 de novembro. 

A perspectiva de que um sistema de piloto automático descontrolado poderia ter contribuído para o acidente já foi objeto de pelo menos um processo envolvendo a Boeing. O pai de uma vítima do acidente do voo 610 da Lion Air entrou com um processo recentemente. 

Problemas em voos anteriores 

Soerjanto Tjahjono, que lidera o Comitê Nacional de Segurança nos Transportes da Indonésia, disse na semana passada que a caixa preta do avião mostrou que "o problema técnico é a velocidade no ar ou a velocidade do avião".

"Houve quatro vôos que tiveram problemas com o indicador de velocidade no ar", disse Tjahjono. 

Em depoimento perante o Parlamento indonésio na semana passada, Utomo disse que o sistema anti-queda foi ativado no avião quando voou para Jacarta na noite anterior ao acidente, mas os pilotos conseguiram desligá-lo. 

Na entrevista coletiva na quarta-feira, Utomo informou que o avião, tanto no voo que caiu quanto no voo anterior de Bali para Jacarta, houve o acionamento de um mecanismo chamado “stick shaker”, que, segundo ele, é "uma advertência que mostrou que o avião pararia". 

O relatório do comitê disse que os dados divergentes entre os sensores pareciam retificados com a limpeza de um plugue elétrico na noite anterior ao acidente, e um "teste em terra descobriu que o problema havia sido resolvido". 

Mas não foi isso que aconteceu, concluiu o relatório, porque quando o avião decolou pouco depois das 6h da manhã seguinte, os dois sensores de velocidade de voo não condiziam com a velocidade da aeronave. 

A Boeing divulgou em 6 de novembro um boletim às companhias aéreas do mundo inteiro alertando sobre leituras errôneas de softwares de controle de voo em seus aviões, dizendo que o boletim era "parte de seu processo usual". 

Luta para controlar a aeronave

O voo 610 foi uma luta para os pilotos quase tão logo eles decolaram. Dados da caixa-preta mostraram que os pilotos passaram todos os 11 minutos do voo tentando retomar o controle da aeronave. Eles reergueram à força o avião mais de 20 vezes, mas o erro no sistema fez com que a aeronave continuasse a inclinar para baixo.

O copiloto, segundo o relatório do comitê, pediu a um controlador de tráfego aéreo que "confirmasse a altitude da aeronave e mais tarde também perguntou a velocidade como mostrado no visor do radar do controlador". O relatório apontou que o copiloto disse que o avião estava passando por um "problema de controle de voo". 

"Ao contrário do que foi declarado em relação ao voo anterior, o relatório não afirma se os pilotos realizaram o procedimento de estabilização de fuga ou cortaram os controles de estabilização", disse a Boeing em um comunicado. 

 Identificação dos corpos

A Polícia Nacional da Indonésia identificou 125 corpos. Em 6 de novembro, as famílias das vítimas espalharam flores no mar de Java, onde o jato bimotor caiu. De acordo com o regulamento oficial do ministério de transporte, a Lion Air é encarregada de pagar um total de US$ 85.000 às famílias de cada passageiro morto. 

O que diz a Boeing

O 737 Max é o avião mais popular da história da Boeing, com 453 entregues até o momento e 4.671 vendidos. Ele está em operação ou foi comprado por 40 companhias aéreas, e a Lion Air deve receber mais de 200 jatos deste modelo. 

A Boeing disse na terça-feira que "continua a trabalhar em estreita colaboração com o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA como consultores técnicos para apoiar a investigação em andamento" pelas autoridades indonésias. 

"Estamos tomando todas as medidas para entender completamente todos os aspectos deste acidente, trabalhando em estreita colaboração com a equipe de investigação e as autoridades governamentais relevantes", disse a Boeing. 

Os voos das companhias aéreas da Indonésia para os destinos dos EUA foram proibidos na década anterior a 2016, porque seu histórico de segurança foi considerado péssimo pelos padrões dos EUA. O acidente do voo da Lion Air foi o pior na Indonésia desde 1997, quando 234 pessoas morreram na companhia aérea nacional Garuda, no norte de Sumatra.

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