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Análise

Queda mudou cenário europeu

A Galeria do Lado Leste do Muro de Berlim, que recebeu o status de monumento histórico em 1991, está sendo restaurada por mais de 90 artistas de 21 países: criações nas placas de concreto simbolizam a reconquista da liberdade | Fabrizio Benzsch/Reuters
A Galeria do Lado Leste do Muro de Berlim, que recebeu o status de monumento histórico em 1991, está sendo restaurada por mais de 90 artistas de 21 países: criações nas placas de concreto simbolizam a reconquista da liberdade (Foto: Fabrizio Benzsch/Reuters)

Foi como se o impacto das marretadas contra o Muro de Berlim tivesse produzido ondas sísmicas. A partir da queda, que completa 20 anos amanhã, um empuxo modernizador atingiu a cidade, o país e em seguida toda a Europa, marcando o início do término formal do comunismo e reconfigurando o mapa geoeconômico do velho continente.A queda do muro mostrou ao mundo a falência dos sistemas totalitários e o desejo da população alemã de ter um estado de­­mocrático. O alemão Olaf Jacob, mestre em Relações Internacio­­nais, entende que o evento serviu para fortalecer a democracia im­­plantada em seu país. "Mostramos que é possível fazer uma revolução sem derramar sangue. Hoje, a Ale­­manha é um dos principais atores na busca pela paz, como mostra o papel que o país exerce nas discussões sobre o clima", aponta.Jacob acredita que a Alemanha terá um papel ainda mais importante no futuro: "Não queremos ser potência mundial, apenas lutar pela paz e democracia. Atual­­mente, temos uma geração de jovens que não conhece o muro e tem uma consciência de unidade maior, ideal para conquistar esses objetivos."

Para o sociólogo Dennison de Oliveira, professor da Uni­­versi­­dade Federal do Paraná, a reunificação alemã teve efeito pacificador. "Com a queda do muro, acabou o último foco de tensão na Europa central. Esse momento finalizou, de direito, a 2.ª Guerra Mundial. E também en­­cerrou, de fato, a Guerra Fria", analisa.

Segundo o acadêmico, o evento reflete na atual política alemã, predominantemente nos acordos dos partidos e dos governos: "Para manter a estabilidade, os representantes do que antes era a parte ocidental tendem a ceder muito aos orientais, inclusive para se forjar uma política nacional que ignore a antiga fronteira".

Porém, a reunificação não foi automática. Oliveira argumenta: "Havia um choque cultural. Os alemães orientais tinham muito mais a ver com os russos do que com os alemães ocidentais. Muita amargura foi despertada entre os ocidentais pelos custos financeiros da reunificação."

Economia

Uma nova ordem econômica se impôs, ampliando e transformando relações comerciais e trabalhistas. A análise do economista Másimo Della Justina, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, demonstra como as mudanças se enquadraram em um cenário ganha-ganha: "Foi bom para ambos os lados. A Alemanha Oriental, e mais tarde outros países comunistas, puderam ter acesso a várias mercadorias que antes inexistiam para eles, e os países capitalistas puderam exportar seu excedente."

Sobre a geografia do trabalho, Justina refuta a teoria do "roubo de empregos" no lado ocidental. "O comunismo exportou mão de obra barata e qualificada. A maioria dos migrantes se empregou em funções recusadas pela metade capitalista, como jardineiros e lixeiros", afirma.

Para Justina, o atual desenvolvimento da Alemanha – a 3.ª maior economia do mundo – é, em parte resultado da rapidez com que se reergueu. "A economia comunista não entrou em colapso naquele momento. Já estava podre havia algum tempo. Porém, a Alemanha se preocupou, desde o século 19, em distribuir riqueza e dar oportunidades a todos. Isso se manteve dos dois lados do muro e, quando caiu, eles já estavam preparados para ser unidos novamente", afirma.

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