Ravil Maganov, presidente da segunda maior produtora de petróleo russa, Lukoil, morreu "após cair de uma janela de um hospital" em Moscou nesta quinta-feira (01), segundo a agência Reuters. A estranha causa da morte do administrador de 67 anos cria mais suspeitas em relação ao governo de Vladimir Putin, porque a Lukoil se posicionou contra a guerra na Ucrânia diversas vezes desde a invasão russa.
Em comunicado no dia 3 de março, por exemplo, a diretoria da empresa pediu o fim "imediato" dos combates, expressando solidariedade aos atingidos pela tragédia.
Duas fontes próximas a Maganov afirmaram à agência de notícias ser altamente improvável que o executivo tivesse cometido suicídio. Questionada pela Reuters se investiga a morte como suspeita, a polícia de Moscou disse ter encaminhado o caso ao Comitê de Investigação.
O Hospital Central de Moscou, onde Maganov estava, costuma ser chamado de "Hospital do Kremlin", por ter membros das elites políticas e empresariais da Rússia entre seus pacientes.
Sequência de mortes desde a invasão russa à Ucrânia
Maganov faz parte de uma lista de executivos de energia que tiveram mortes suspeitas desde o conflito na Ucrânia. Alexander Subbotin, de 43 anos, que também foi diretor da Lukoil, companhia petrolífera russa, membro do conselho de administração da Lukoil Trading House LLC, também irmão de Valery Subbotin, ex-vice-presidente da empresa, foi encontrado morto após um ritual de cura xamâmico.
Entre outros executivos que tiveram mortes suspeitas, esteve o gerente de alto nível da Gazprom, Alexander Tyulakov, que foi encontrado morto em sua casa em São Petersburgo, um dia após a invasão russa ao país vizinho.
Em abril, Sergei Protosenya, oligarca multimilionário e ex-vice-presidente da Novatek, a maior produtora de gás natural liquefeito (GNL) da Rússia, foi encontrado sem vida com a esposa e a filha na Espanha.
Além de muitos outros oligarcas russos que tiveram morte atípica, nas últimas duas semanas três importantes figuras políticas morreram na Rússia de Vladimir Putin. Pouco antes de Ravil Maganov, foi a vez de Dmitry Litovkin.
O correspondente de guerra Dmitry Litovkin teve morte repentina
Segundo a imprensa russa, aos 51 anos, Litovkin "adoeceu repentinamente e foi colocado em coma induzido". Depois disso, ele morreu no último domingo (28). Litovkin esteve ativamente envolvido em atividades de propaganda nos últimos anos e era editor-chefe de uma revista militar russa.
“Dmitry Litovkin estava profissionalmente conectado com a Marinha, com a esfera de controle de armas, com os problemas no exército na utilização de tecnologia. Além disso, ele tinha um conhecimento notável em áreas como armas de mísseis de várias classes, sistemas de defesa aérea e antimísseis, sistemas de mísseis antitanque e veículos aéreos não tripulados", relatou o periódico russo Nezavisimaya Gazeta.
Darya Dugina morre em explosão de automóvel que dirigia
A jornalista e cientista política Darya Dugina, de 30 anos, foi morta no dia 20 de agosto, em Moscou, após uma explosão de bombas instaladas debaixo do carro que ela dirigia.
"Um dispositivo explosivo foi colocado na parte de baixo do carro, no lado do motorista. Darya Dugina, que estava ao volante, morreu no local", disse o Comitê de Investigação da Rússia, órgão federal ligado diretamente à presidência.
Os russos trabalham com a hipótese de o incidente ter sido criado por uma cidadã ucraniana que vive na Rússia, como represália pela guerra, mas que teria a intenção de matar o pai de Darya - e dono do automóvel, Alexander Dugin.
Analista e estrategista controverso, Dugin é conhecido por visões ultranacionalistas. Ele defende o conceito de “mundo russo” e o envio de tropas para a Ucrânia. O estrategista segue o eurasianismo – filosofia que defende que a Rússia precisava se afastar dos ideais europeus e criar um império russo-asiático.
A Ucrânia nega fazer parte do incidente. "Não estamos envolvidos na explosão que matou essa mulher. É uma obra dos serviços secretos russos", disse o secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Oleksii Danilov.
Histórico de envenenamento nos serviços secretos russos
Desde quando assumiu a presidência da Rússia, em 2000, Putin é acusado de mandar envenenar opositores, uma prática centenária que teria sido herdada dos tempos da extinta União Soviética. O presidente foi oficial do serviço secreto soviético da KGB.
Um dos primeiros casos de envenenamento ocorrido durante o governo Putin aconteceu em setembro de 2004, quando o candidato da oposição à eleição presidencial ucraniana, Viktor Yushchenko, ficou gravemente doente e teve seu rosto desfigurado, mas sobreviveu. A doença havia sido provocada por uma substância tóxica que ele teria ingerido durante uma refeição.
Em 2020, o principal líder da oposição russa, Alexei Navalny, foi envenenado e passou por uma longa recuperação. No começo de 2021, depois de meses fora da Rússia, ele voltou para o país pela primeira vez desde seu envenenamento e foi preso.
De acordo com o governo alemão, Navalny foi envenenado por uma substância conhecida como Novichok. A maior parte do agente químico teria sido plantada na cueca dele. O Kremlin negou as acusações de envolvimento.
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