Ela é americana, descendente de porto-riquenhos, cubana de coração e, em meio ao drama do 11 de setembro de 2001, os americanos descobriram que ela era, também, uma das maiores espiãs de todos os tempos. Condenada a 25 anos, encarcerada na prisão feminina de segurança máxima de Carswell, no Texas, Ana Belén Montes, agora com 65 anos, está em liberdade por bom comportamento, três anos antes do fim da pena.
“Ana Belén era uma agente extraordinária, não uma simples espiã. Atuou por 16 anos com total impunidade, tornando-se a principal analista de inteligência do governo americano sobre Cuba, ao mesmo tempo em que se reportava ao governo cubano”, resume Scott Carmichael, ex-agente de contra-espionagem da Defence Intelligence Agency (DIA), no livro "Dentro da Investigação e Captura de Ana Montes" (tradução livre, sem versão em português), publicado pela US Naval Institute Press.
Quando Belén foi descoberta, houve um choque na comunidade de inteligência. Segundo Carmichael, ela não apenas transmitiu informações sobre os Estados Unidos a Cuba, mas também influenciou a maneira como os serviços americanos percebiam a ilha comunista. Se Bill Clinton assim declarou em 1998 que "Cuba não representa mais uma ameaça para os Estados Unidos", Ana Belén deu sua contribuição para esse movimento.
Entre as informações privilegiadas repassadas aos cubanos, em 1987, a espiã forneceu as coordenadas de um acampamento clandestino das forças especiais dos EUA em El Salvador. Os guerrilheiros marxistas liquidaram ali 90 pessoas. Anos depois, na véspera de sua prisão, Belén teria transmitido os planos dos Estados Unidos para a invasão do Afeganistão.
Além de utilizar as informações coletadas por Belén, Havana compartilhou as revelações com seus aliados Irã, Venezuela e Rússia.
A menina que odiava militares americanos
Filha de um psiquiatra do Exército dos EUA, Ana nasceu em 1957 em uma base do Exército dos EUA em Nuremberg, Alemanha. A família porto-riquenha se mudou para o Kansas, depois se estabeleceu em Maryland, perto de Baltimore.
O pai de Ana batia na mãe, nos dois irmãos e na irmã, todos mais novos, até que os pais se divorciaram quando ela tinha 15 anos. A agente secreta Montes teria desenvolvido ódio pelos militares americanos, que ela associava ao pai.
Na juventude, Belén conheceu um jovem esquerdista argentino durante um intercâmbio universitário na Espanha e abraçou as ideias esquerdistas, ao mesmo tempo em que nutria criticava profundamente a política de Ronald Reagan.
Ana foi contratada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos no início dos anos 1980 como escriturária e fez mestrado em Relações Internacionais pela Universidade Johns-Hopkins. Alguns anos depois, foi recrutada pelo FBI.
Ela ingressou na DIA em 1985, visitou Cuba no mesmo ano, subiu na hierarquia da administração americana para se tornar em 1992 a primeira analista política e militar em questões cubanas, sendo chamada de “Rainha de Cuba”.
Ana disse durante seu julgamento em 2002: “Obedeci mais à minha consciência do que à lei. Considero a política de nosso governo em relação a Cuba cruel e injusta". De acordo com sua biografia, ela escreveu da prisão a um sobrinho: “Devo fidelidade a princípios e não a nenhum país, governo ou pessoa. Não devo fidelidade nem aos Estados Unidos, nem a Cuba, nem a Obama, nem aos irmãos Castro, nem mesmo a Deus”.
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