“Temos que colocar fim ao ‘processo’ [de independência da Catalunha] nas urnas. No dia 21 que ninguém fique em casa: deixemos de perder tempo, oportunidades, amizades e saiamos a votar para iniciar uma nova etapa na Catalunha”, escreveu Inés Arrimadas em seu perfil do Twitter. A jovem é a nova cara da política pró-unionista e concorre à presidência do governo autônomo da Catalunha pelo partido de centro-direita Ciudadanos nas eleições desta quinta-feira (21).
Subentendida na convocação está a preocupação da candidata quanto à fragmentação política que vive a região. As pesquisas de opinião para as eleições mostram uma diferença apertada entre os pró-independência e os unionistas, o que evidencia quão polarizada está a região.
Há menos de três meses, em 1º de Outubro, o governo da Catalunha, então liderado por Carles Puigdemont, realizou um referendo para a total separação da região, o que foi considerado ilegal pelo governo central da Espanha. O plebiscito foi marcado pelas imagens que o governo espanhol tanto temia: colégios eleitorais invadidos pela polícia, anciãos retirados à força e milhares de pessoas votando embaixo da chuva. De acordo com as autoridades catalãs, ao menos 884 pessoas e 33 policiais ficaram feridos durante a votação.
Naquele dia, das 2,2 milhões de pessoas que foram às urnas (cerca de 42% do eleitorado), 90% votaram a favor da independência. Baseado nestes resultados, o parlamento catalão de maioria separatista declarou a sua independência. Na ocasião, Arrimadas não poupou críticas a Puigdemont. No parlamento, a deputada e líder da oposição pediu para que o governante reconhecesse que havia se equivocado e ainda provocou dizendo que antes de pensar na Catalunha ele estava pensando em seu próprio partido.
A resposta de Madrid à declaração de independência veio rápida: a autonomia da Catalunha foi retirada, seu parlamento dissolvido e novas eleições regionais foram convocadas, na esperança de que os políticos pró-unionistas ocupem a maioria das cadeiras e nomeiem um novo presidente alinhado ao governo espanhol.
De acordo com a publicação digital americana Quartz, sete partidos políticos estão disputando as cadeiras do novo parlamento, mas como nenhum deles está perto de ocupar a maioria, uma aliança de pelo menos três será necessária para formar uma coalizão de governo. Isso pode ser uma tarefa complicada, já que cada partido tem ideias diferentes sobre o futuro da Catalunha e sobre quem deve ser o próximo primeiro-ministro.
Apesar deste cenário de incertezas, as pesquisas de opinião mostram que o partido de Inés Arrimadas vem conquistando popularidade entre os catalães contrários à independência da região. Segundo divulgou nesta terça-feira (19) o El País, Ciudadanos e ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) estão tecnicamente empatados.
Quem é Inés Arrimadas
A jovem que pode se tornar a primeira mulher a presidir o parlamento da Catalunha não nasceu na região, aliás, mora lá há apenas 10 anos. Conforme informou o jornal português Observador, os pais de Inés Arrimadas moraram por pouco mais de dez anos em Barcelona, nos anos 1960. Quando a filha mais nova do casal nasceu, eles já moravam em Andaluzia. Foi apenas em 2008 que ela resolveu se mudar para a capital da Catalunha.
Antes de estabelecer uma carreira na política, Arrimadas, hoje com 36 anos, se formou em Direito e Administração de Empresas. Conforme consta em seu perfil no site do partido Ciudadanos, ela desenvolveu sua carreira profissional como consultora senior em uma empresa de consultoria especializada em estratégia e operações. Por causa deste emprego foi morar em Barcelona, mas a vida política a arrebatou pouco tempo depois da mudança de endereço, apesar do protesto dos pais para que “não se metesse em política”.
Em 2011 se tornou membro do Comitê Executivo do Ciudadanos, um partido jovem como ela, formado em 2006. Já no ano seguinte se tornou deputada e em 2015 foi candidata à presidência da Generalidade da Catalunha, quando Puigdemont foi eleito. Naquele ano o Ciudadanos começou a ganhar visibilidade em toda a Espanha, bem como o nome Inés Arrimadas.
Críticas e machismo
Apesar da ascensão meteórica na carreira política, a advogada divide opiniões na Catalunha. Alguns críticos dizem que ela não tem voz ativa dentro do partido e que seria um fantoche de Albert Rivera, líder do Ciudadanos e deputado no parlamento espanhol. Segundo o jornal de Barcelona El Periódico, há poucos dias perguntaram a ela em uma entrevista quem iria governar a Catalunha caso ela fosse eleita: se ela mesma ou Rivera.
Piadas do mesmo teor em canais de humor também ocorreram em sua trajetória política. No dia 13 deste mês o El País noticiou que o comediante Toni Albà, reconhecido na televisão da Catalunha, tuitou um verso em que chama de “mala puta” uma menina chamada Inés. Segundo o jornal, Arrimadas lamentou o comentário, o qual considera uma mostra de machismo e de ódio. “É um insulto machista asqueroso que basicamente não tem nenhum respeito em por mim nem pelos que votam no Ciudadanos”, disse ela.
Perspectivas
Mesmo que não saia vitoriosa desta eleição, Arrimadas e seu partido provavelmente conseguirão fortalecer sua posição dentro do parlamento catalão e ganhar prospecção na política espanhola, o que pode ser fundamental em um cenário dominado por incertezas. A população está tão dividida que analistas ouvidos pelo Quartz indicam que há 50% de chances de haver uma nova eleição regional no próximo ano.
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