O líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, foi morto em um ataque nesta sexta-feira (27) contra o quartel-general do grupo terrorista, em Beirute. A informação foi confirmada por Israel, país autor do bombardeio, e pela milícia libanesa, neste sábado (28).
Nasrallah, que considerava Israel seu maior inimigo, conseguiu evitar sua morte em meio a confrontos com o país durante os mais de 30 anos em que liderou o grupo xiita libanês. Sua ausência, a partir de agora, coloca o futuro do Hezbollah em um cenário imprevisível.
Nasrallah assumiu as rédeas do grupo xiita em 1992, depois do seu antecessor, Abbas al Musawi, ter sido morto em um ataque de helicóptero israelense no sul do Líbano. Ele sempre teve plena consciência de que, como líder máximo do Hezbollah, era um inimigo declarado de Israel. Por essa razão, desde 2006, morava em locais secretos.
Sua aparição pública foi rara desde que assumiu o cargo, sendo visto pessoalmente pela última vez há 12 anos. No contexto do conflito crescente, suas aparições só foram televisionadas a partir de locais desconhecidos.
“Há anos que não utilizo celulares ou telefones fixos por razões de segurança e, mesmo que quisesse, não me permitiriam”, afirmou em maio durante o funeral de sua mãe, no qual participou por meio de uma mensagem gravada.
Nasrallah nasceu em 1960 em uma família modesta nos subúrbios ao leste de Beirute e desde a escola demonstrou grande fervor religioso e interesses políticos.
Seguidor do imã Musa Sadr, líder da comunidade xiita libanesa que mais tarde desapareceu em circunstâncias misteriosas, juntou-se ao movimento político xiita Amal quando era adolescente e participou em alguns dos seus protestos.
Quando estava quase na maioridade, Nasrallah viajou para a cidade iraquiana de Najaf, berço do pensamento teológico xiita, onde foi ensinado por alguns dos clérigos que acompanharam o aiatolá Ruhollah Khomeini na Revolução Islâmica no Irã. Ao retornar ao Líbano, estudou sob a supervisão de seu antecessor à frente do Hezbollah, Abbas al Musawi.
Em 1982, foi um dos criadores do grupo clandestino terrorista, e desde o início fez parte do seu órgão dirigente, o Conselho dos Sete.
Nasrallah destacou-se como um dos líderes da corrente reformista, que buscava incorporar o grupo clandestino à vida política libanesa. Sua ascendência foi tal que foi nomeado secretário-geral do grupo poucas horas depois de Israel ter matado seu antecessor. Na época, Nasrallah tinha 32 anos.
A partir disso, nas últimas décadas de conflito com Israel, participou ativamente da transformação da milícia em uma força militar com influência regional, o que tornou o número 1 do Hezbollah uma das figuras árabes mais proeminentes em gerações, com apoio do Irã.
Ao mesmo tempo, suas posições o tornaram cada vez mais polêmico no Líbano, país de origem do grupo terrorista, e no mundo árabe em geral. Isso porque, à medida que a influência do Hezbollah se expandia para a Síria e outros países da região que formam o Eixo da Resistência, um clima de tensão também aumentava proporcionalmente entre os aliados do Irã e as monarquias árabes sunitas aliadas aos EUA no Golfo.
Entrada na política
Nasrallah tirou o Hezbollah do esconderijo e transformou-o em um partido político, com uma projeção que vai além de ser uma simples milícia ou irmandade religiosa. Em 1992, participou de suas primeiras eleições e conquistou 12 assentos no Parlamento libanês.
Nos anos posteriores à saída de Israel do Líbano, manteve uma posição beligerante e intransigente, o que acabou por levar ao conflito de 2006, em que o Hezbollah e Israel trocaram ataques durante cinco semanas em uma guerra particular que afetou grande parte do Líbano.
Em vez de se desarmar e se retirar da fronteira sul do Líbano, conforme estipulado no acordo de paz de 2006, o Hezbollah rearmou-se fortemente, obteve armas de longo alcance e continuou a fustigar Israel, que respondeu ferozmente.
Durante todo este tempo o Hezbollah consolidou-se como um "Estado dentro do Estado" libanês, com feudos inexpugnáveis e uma poderosa força militar.
Em 2023, os terroristas libaneses entraram na guerra da Faixa de Gaza para apoiar o Hamas como um de seus aliados e para desestabilizar o flanco norte de Israel, algo que rendeu ao Hezbollah uma nova guerra indireta com o país vizinho.