Ex-líderes do maior grupo guerrilheiro da Colômbia anunciaram, na semana passada, uma ruptura com o acordo de paz de 2016 entre o Estado colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O acordo colocou fim no conflito mais longo da América Latina, que durou 56 anos.
Em vídeo divulgado na quinta-feira, o ex-negociador líder das Farc, Iván Márquez, anunciou um "novo capítulo" na luta armada contra um governo que, segundo eles, traiu o acordo. Ele estava com outros 20 membros das Farc fortemente armados.
Iván Márquez - nome de guerra de Luciano Marín - foi o principal negociador do acordo de paz assinado em Havana e um dos principais responsáveis por alcançar uma saída negociada para o conflito, e também é o primeiro do alto comando da guerrilha a abandonar o acordo, anunciando a "nova guerrilha", que busca retomar as bandeiras antigas das Farc.
"O Estado não cumpriu as suas obrigações mais importantes, que são garantir a vida de seus cidadãos e, principalmente, evitar assassinatos por razões políticas", afirmou Marquéz. Ele disse que seu grupo lutaria por um governo que defenda o processo de paz. "Em dois anos, mais de 500 líderes comunitários foram mortos e 150 combatentes da guerrilha estão mortos em meio à indiferença e a indolência do Estado", afirmou Márquez.
Ele disse ainda que o novo grupo guerrilheiro, chamado de Farc-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular), usará outras táticas e que apenas "responderá a ofensivas" e que não fará sequestros em troca de dinheiro de resgate, mas que vão "buscar o diálogo" com proprietários de terra e empresários para tentar convencê-los a financiar a sua causa.
Iván Márquez era o segundo no comando das extintas Farc, depois de Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como Timochenko, que hoje é o presidente do partido político em que se transformou as Farc.
O acordo de paz garantiu benefícios aos ex-integrantes da guerrilha em troca da promessa de desarmamento e do fim dos atos de violência. Entre esses benefícios, eles podem escolher cinco integrantes para o Senado e cinco para a Câmara dos Deputados. Uma das vagas do Senado era de Iván Márquez, mas ele renunciou em julho do ano passado, poucos dias antes de tomar posse, em protesto pela prisão de Jesus Santrich.
Com a alegação de que faltavam garantias para que pudesse viver em sociedade, ele estava foragido desde então e sua única aparição pública havia sido em um vídeo divulgado em janeiro. Nesse vídeo, ele acusava o governo colombiano de não ter conseguido por em prática os acordos com as Farc, mas ainda dizia que estava comprometido com a paz.
Segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, que no passado oferecia recompensa de US$ 5 milhões por informações que levassem à captura de Márquez, o então líder das Farc supervisionava o carregamento de aviões com 600 a 1.200 quilos de cocaína e o recebimento de dinheiro e armas como pagamento pela carga.
Os EUA também acusaram Márquez de ter criado as políticas das Farc para controlar a produção e distribuição de toneladas de cocaína para os EUA e o mundo; de cobrar taxas do comércio de drogas na Colômbia para financiar as Farc; e de assassinar pessoas que interferiram com as políticas de tráfico de drogas ou com a agenda política do grupo.
A resposta da Colômbia
Neste domingo (1º), o exército da Colômbia anunciou a prisão de sete dissidentes da guerrilha das Farc no norte de Santander, segundo a imprensa local. Na sexta-feira (30), uma operação contra os rebeldes das Farc deixou nove mortos na zona rural de San Vicente del Caguán, no sul da Colômbia.
A Justiça Especial para a Paz da Colômbia, órgão responsável pela supervisão do acordo de paz, ordenou a captura dos ex-líderes da guerrilha que apareceram no vídeo divulgado na quinta-feira.
O presidente Iván Duque anunciou uma recompensa de US$ 100 mil por dicas que levem à captura das pessoas que aparecem no vídeo. Ele disse que o exército colombiano estava bem equipado para encontrá-los. "A Colômbia não aceita ameaças de ninguém, muito menos de traficantes de drogas", disse ele em um discurso no palácio presidencial transmitido pela televisão. "Esse grupo de delinquentes quer zombar do povo colombiano e não vamos permitir isso".
A Colômbia não estava enfrentando uma nova insurgência, disse Duque, apenas um "bando de criminosos". Ele acusou o ditador venezuelano Nicolás Maduro de lhes dar refúgio na Venezuela.