Na semana passada, após ser condenada por corrupção a seis anos de prisão e inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, disse que não concorrerá a nenhum cargo nas eleições de 2023 mesmo com a proteção do foro privilegiado e da possibilidade de recorrer a instâncias superiores.
Embora não se saiba se ela manterá a promessa, este anúncio e a própria condenação de Kirchner intensificaram as especulações para o pleito presidencial de outubro. Nesse cenário, vem ganhando força um personagem que corre por fora: o deputado nacional Javier Milei, de 52 anos.
Uma pesquisa recente do instituto IPD mostrou que ele está consolidado na lista de pré-candidatos à presidência, com 26% da preferência dos eleitores, muito próximo dos postulantes da coalizão Frente de Todos, do atual presidente Alberto Fernández, e da Juntos pela Mudança, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) – estas tiveram diferentes pré-candidatos listados nas simulações do instituto, variando entre 27% e 31%.
Numa das simulações, Milei apareceu até em segundo lugar, com 30%, apenas um ponto percentual atrás do atual ministro da Economia argentino, Sergio Massa.
Milei, fundador da coalizão A Liberdade Avança, é economista e se tornou conhecido como o “Trump argentino” – não só pelo corte de cabelo peculiar, mas principalmente pelo incisivo discurso outsider.
Ele foi economista-chefe de uma empresa de previdência privada, economista sênior do HSBC e professor de economia e se diz adepto da Escola Austríaca, que defende a liberdade econômica e a não interferência do Estado na área.
Na primeira eleição que disputou, as legislativas de 2021, Milei foi eleito deputado e sua coalizão surpreendeu ao ser a terceira mais votada na cidade de Buenos Aires.
Admirador de Donald Trump e amigo da família Bolsonaro, ele é contrário ao aborto, cético sobre as mudanças climáticas e afirma que numa eventual presidência sua “não haverá marxismo cultural”. Acredita que as novas gerações argentinas estão mais propensas a concordar com suas opiniões porque “têm menos tempo de exposição à lavagem cerebral da educação pública”.
“Os jovens são rebeldes por natureza e o status quo é de esquerda”, justificou, em declaração recente. “Hoje um menino vai para a aula e se o professor fala alguma bobagem, ele procura nas redes, percebe que é bobagem e confronta [o professor]. E os professores depois fazem bullying com aqueles que querem defender as ideias de liberdade.”
Se eleito presidente, Milei pretende cortar gastos públicos, extinguir o Banco Central, rever aposentadorias “privilegiadas”, reduzir o déficit das empresas geridas pelo Estado, reduzir impostos e regulamentações (inclusive na legislação trabalhista) e diminuir o número de tributos de 165 para apenas dez.
Alguns integrantes da Juntos pela Mudança defendem uma aliança com A Liberdade Avança para tirar o peronismo da Casa Rosada em 2023, mas Milei não se mostra empolgado com essa possibilidade.
“Quem fala que não temos estrutura [partidária] são integrantes da Juntos pela Mudança, que já fracassaram e só querem voltar ao poder para conseguir carguinhos. Depois, vão acabar transformando Máximo Kirchner [filho de Cristina] presidente em 2027”, disparou.