A Bolívia tem um novo presidente. Trata-se de Luis Arce, do Movimento ao Socialismo e afilhado político de Evo Morales.
Ele venceu o primeiro turno das eleições presidenciais no último dia 18 de outubro, superando inclusive o ex-presidente Carlos Mesa, um dos principais nomes de centro no país. Sua vitória foi reconhecida pelos adversários antes mesmo de terminarem de contar os votos.
Mas afinal, quem é Luis Arce e principalmente, o que essa vitória representa para o cenário político da Bolívia, nas relações com o Brasil e com o restante da América do Sul?
A relação entre Brasil e Bolívia pode mudar depois da eleição de Luis Arce?
Conhecido mais como Lucho Arce, o novo presidente boliviano é um economista e professor universitário. Trabalhou no Banco Central da Bolívia e foi ministro da Economia do país durante os governos de Evo Morales, entre os anos de 2006 e 2017. Depois ele voltou entre janeiro e novembro de 2019.
Tanto que, para muitos, ele é visto como o grande responsável pelo desenvolvimento econômico da Bolívia nesse período.
Como um dos principais nomes do Movimento pelo Socialismo, partido de Morales, ele ajudou a desenhar as reformas que deram força à economia boliviana durante as últimas duas décadas. Nesse período, o PIB do país saltou de 9,5 bilhões de dólares para mais de 40 bilhões.
Além disso, houve a queda na inflação e nos índices de pobreza, o último caiu de 60% para 37%.
Para isso, Arce se focou em três grandes frentes: incentivar o mercado interno, garantir a estabilidade cambial e promover políticas de industrialização de recursos naturais.
Uma das políticas adotadas foi a de nacionalizar empresas consideradas estratégicas e que haviam sido capitalizadas ou privatizadas.
Só que esses bons resultados não passaram sem críticas ou suspeitas. Para a oposição, os números positivos eram reflexo do boom das commodities no início dos anos 2000 e não realmente resultado do trabalho da equipe econômica de Arce.
Além disso, quando Morales foi deposto, o governo de transição questionou também a diversificação da economia, alegando que a Bolívia continuava ainda muito dependente da venda de matéria-prima.
A volta de Evo Morales a Bolívia
A vitória de Luis Arce vai muito além de simplesmente trazer a esquerda de volta ao poder na Bolívia, representa um retorno de Evo Morales ao país - literalmente.
O ex-presidente estava exilado na Argentina desde dezembro e já disse que seu retorno à Bolívia agora é só uma questão de tempo.
Ainda não é possível dimensionar o tamanho da influência que Morales vai ter sobre Arce, agora que ele é presidente.
Durante a campanha, Luis Fernando Camacho, um dos principais nomes da oposição, dizia que Arce não era um candidato, mas um fantoche de Morales.
Ao mesmo tempo, em que o ex-presidente já começou a falar em “nós" mesmo antes de voltar à Bolívia. Ele defendeu um pacto de reconciliação entre partidos, classe trabalhadora e empresarial e chegou a dizer que, “não somos vingativos, não somos revanchistas”.
Mas como fica o Brasil com a vitória de Luis Arce?
Com a vitória do Movimento ao Socialismo, provavelmente a relação entre Bolívia e Brasil será de distanciamento.
No entanto, o presidente Jair Bolsonaro se envolveu muito pouco nas eleições bolivianas, ao contrário do que se viu no ano passado com a Argentina. Isso pode pesar a favor de uma relação mais amistosa, já que a estratégia da Bolívia sempre foi mais de inclusão do que de combate.
Além disso, Arce vai ter mais questões internas do que externas para resolver, o que pode fazer transformar uma briga com o Brasil um preocupação pequena. Resta saber se Bolsonaro vai pensar da mesma forma.
Essa lógica também deve se aplicar aos demais países da América do Sul. Arce é considerado um político mais discreto e moderado do que Morales, o que significa que ele deve se manter distante de grandes tensões. Em outras palavras, isso significa que ele dificilmente deve demonstrar um grande apoio ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela.