O australiano Brenton Tarrant, 28, suspeito de ser o autor de ataques a tiros em duas mesquitas da Nova Zelândia nesta sexta-feira (15), era um personal trainer que atendia crianças de forma gratuita, segundo pessoas próximas a ele ouvidas pelo site australiano ABC.
No ataque, ao menos 49 pessoas morreram. A polícia prendeu quatro suspeitos, mas não confirmou se Tarrant é um dos detidos. O governo australiano disse que um cidadão de seu país foi preso na Nova Zelândia.
Tarrant transmitiu ao vivo pelo Facebook cenas de um ataque com armas a uma mesquita e publicou um manifesto de mais de 70 páginas em uma rede social, no qual descreveu a si mesmo como um "etnonacionalista e fascista".
Ele disse ainda ser "um homem branco comum, de uma família comum", que nasceu na Austrália em uma família trabalhadora e de baixa renda, e ressalta sua origem europeia. "As origens da minha língua são europeias, minha cultura, minhas crenças filosóficas, minha identidade é europeia e, mais importante, meu sangue é europeu", escreveu, apontando vir de uma linhagem de Escoceses, irlandeses e ingleses.
Tarrant contou que levou dois anos planejando o ataque, e que sua intenção é fazer com que menos pessoas queiram migrar para "terras europeias" e "mostrar aos invasores que nossas terras nunca serão as suas terras, enquanto um homem branco viver, e que eles nunca irão substituir nosso povo". Ele disse ainda que queria passar a mensagem de que não há lugar seguro no mundo.
O vídeo transmitido ao vivo durante o ataque foi gravado com uma câmera presa no capacete. Nas imagens, o atirador invade a mesquita com uma arma de grosso calibre e atira contra as pessoas. Ele dá tiros pelas costas e também em vítimas que já estavam caídas no chão. As cenas também mostram disparos à queima-roupa.
Tarrant trabalhou em uma academia na cidade de Grafton, a 612 km de Sidney, na Austrália, entre 2009 e 2011. Segundo sua chefe na época, ele era um profissional dedicado, que levava os exercícios físicos muito a sério. Ele participava de um programa voluntário para treinar as crianças do bairro.
Seu pai morreu aos 49 anos, vítima de câncer. Após essa perda, ele partiu em uma viagem pelo mundo que durou sete anos.
A viagem pela Europa e pela Ásia foi paga com dinheiro que ele ganhou ao investir em moedas virtuais, chamadas de bitcoins. Pessoas próximas acreditam que sua radicalização tenha ocorrido durante esse período.
Em uma dessas viagens, ele chegou à Coreia do Norte. O australiano foi fotografado durante uma visita a um monumento do país.
Influência de assassino norueguês
O manifesto supostamente escrito pelo assassino diz que ele se inspirou em outro assassino em massa, o norueguês Anders Behring Breivik, e sugeriu que os dois tiveram um "breve contato".
Breivik, que matou 77 pessoas em 22 de julho de 2011 em um ataque a bomba em Oslo e um tiroteio em massa em um acampamento de verão para crianças, está atualmente cumprindo uma sentença de 21 anos em uma prisão perto da cidade de Skien.
Falando ao jornal norueguês VG, o advogado de Breeivk, Øystein Storrvik, disse que seu cliente tem pouco acesso ao mundo exterior e achou difícil acreditar que os dois pudessem ter entrado em contato. "Na prática, Breivik está isolado do mundo exterior", disse Storrvik.
Espen Jambak, chefe da prisão na prisão de Breivik, também disse à VG que há "controle de comunicação" nas prisões norueguesas e que os funcionários não têm conhecimento de uma carta enviada pelo autor do manifesto a Breivik.
No texto, várias referências a Breivik foram incluídas. O nome do assassino em massa norueguês foi incluído em uma lista de "partidários/combatentes da liberdade/soldados etno", os quais tomaram uma posição contra o "genocídio étnico e cultural", segundo o autor.
Outra inspiração do manifesto foram os escritos de Dylann Roof, americano que matou nove pessoas negras em uma igreja histórica em Charleston em um tiroteio em massa em 2015. No entanto, ele disse que sua "verdadeira inspiração" veio de Breivik.
Antes de seu próprio ataque em 2011, Breivik escreveu um manifesto muito mais longo. Em suas 1.500 páginas, o norueguês fez uma série de referências à Nova Zelândia, sugerindo que o país talvez fosse um lugar para os europeus se movimentarem para evitar a imigração.