Após a segunda noite de confronto entre gangues e a polícia em Caracas, capital venezuelana, as Forças de Ações Especiais (FAES) da ditadura de Nicolás Maduro entraram na manhã desta sexta-feira em um conjunto de morros chamado Cota 905, um bairro conhecido por ser um reduto de criminosos. Segundo relatos de jornalistas que acompanham a operação, cerca de 800 membros da Faes estão revistado "casa por casa" em busca dos líderes de uma gangue que há anos controla a zona. Um deles é Carlos Luis Revete, conhecido como "Koki".
Nesta quinta-feira, o regime chavista anunciou recompensa de meio milhão de dólares para informações que levem à prisão dele. A mesma cifra está sendo oferecida para informações que resultem na captura de outros dois criminosos que comandam junto com Koki uma organização criminosa na Cota 905: Garbis Ochoa Ruíz (El Garbis) e Carlos Calderon Martinez (El Vampi). Os três são acusados de homicídio, entre outros crimes.
De acordo com a imprensa venezuelana, a gangue atacou a sede da Guarda Nacional Bolivariana na tarde desta quinta-feira e também bloqueou avenidas importantes da capital. A intensa troca de tiros entre os criminosos e a polícia está aterrorizando os moradores de Caracas desde quarta-feira. Várias pessoas morreram no confronto.
Koki e sua "megabanda da Cota 905"
Koki é procurado desde 2013 por diversos crimes além de assassinato, como tráfico de drogas e roubo. De acordo com um relatório da Insight Crime, a quadrilha que ele lidera controla todas as atividades criminosas e praticamente todo o setor de Cota 905, principalmente a venda de drogas e o roubo de veículos, embora também esteja ligado a casos de sequestro.
Também se sabe que ele é impiedoso com os rivais – em 2019, sete membros de uma quadrilha rival foram assassinados. Mas Koki também tem aliados importantes, como El Vampi e El Garbis, o que confere mais poder a esses criminosos no controle do território de Cota 905, um dos mais violentos de Caracas. Estima-se que juntas, as gangues de Koki e El Vampi tenham 180 homens.
Koki nasceu em 1978 e foi criado nos bairros populares de Caracas. A primeira vez que ele despertou a atenção das forças de segurança foi em 2013, quando foi acusado de matar Greiber Danilo Alonso Lucas, que tinha postado nas redes sociais uma foto ao lado de um dos inimigos de sua gangue.
Koki se tornou importante no submundo do crime em 2015, quando o então líder da gangue, conhecido como "El Chavo", morreu em um confronto com forças policiais. Ele assumiu seu lugar, tornando-se um dos chefes da "megabanda" de Caracas.
Suspeita de relação com o regime
Naquela época, a Cota 905 foi alvo de uma operação das forças de segurança de Nicolás Maduro, que resultou na morte de 15 pessoas. Nesta ocasião, segundo levantamento do Insight Crime, Koki se refugiou em uma prisão horas antes da incursão policial, o que levantou suspeitas de que ele teria sido protegido pelas autoridades de segurança.
A relação de Koki com o regime chavista foi novamente alvo de escrutínio em 2017, quando Delcy Rodriguez e Jorge Arreaza, dois membros do alto escalão do governo Maduro, foram à Cota 905 para "negociar a paz" com a comunidade local. O jornal El Nacional, citando fontes confidenciais, informou que os dois políticos se encontraram com líderes de gangues naquela ocasião e como resultado de um "acordo" entre eles, foi reativado o programa de "Zonas de Paz", que, na prática, impedia a presença de policiais no bairro.
"Embora a 'pax mafiosa' entre as gangues e as forças de segurança possa ter reduzido a violência, também permitiu que gangues como a de Revete [Koki] acumulassem armas pesadas e consolidassem suas economias criminosas", diz o relatório da Insight Crime, que informa também que, por volta de 2016, estimava-se que a quadrilha tinha entre 70 e 120 membros.
Mais recentemente, no começo deste ano, a gangue de Koki tomou alguns setores de La Vega, nos arredores de Cota 905, os quais ainda não eram dominados por nenhuma organização criminosa.