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TERRORISMO

Quem é o ELN, a guerrilha marxista responsável pelo atentado na Colômbia

Flores deixadas em homenagem às vítimas do ataque a bomba que matou 21 pessoas e feriu 68 na frente da Academia de Cadetes General Santander, em Bogotá, capital da Colômbia |  DANIEL MUNOZ / AFP
Flores deixadas em homenagem às vítimas do ataque a bomba que matou 21 pessoas e feriu 68 na frente da Academia de Cadetes General Santander, em Bogotá, capital da Colômbia (Foto:  DANIEL MUNOZ / AFP)

O Exército da Libertação Nacional (ELN), um grupo rebelde marxista, está por trás do atentado que matou 21 pessoas em uma academia de treinamento de cadetes em Bogotá, capital da Colômbia, nesta quinta-feira (17). 

Milícias urbanas do grupo rebelde marxista passaram mais de 10 meses planejando o ataque, de acordo com autoridades.

Esse foi o pior atentado em anos na Colômbia. A explosão do carro que carregava 80 quilos de explosivos deixou 68 feridos, incluindo três crianças. Dez pessoas, incluindo o motorista da SUV, morreram no momento da detonação e 11 jovens cadetes foram resgatados mas não resistiram aos ferimentos.

Autoridades identificaram o autor do ataque como José Aldemar Rojas Rodríguez, que dirigiu a SUV carregada com 80 quilos de explosivos.

O ELN vem lutando contra o Estado desde os anos 1960 e diz que quer uma revolução no estilo cubano na Colômbia. O grupo tem presença em ambos os lados da fronteira com a Venezuela e também opera na região do Pacífico. Estima-se que o grupo tenha mais de 2.000 membros, disse Adam Isacson, especialista em Colômbia do Escritório de Washington para América Latina.

Além do ELN – que, no passado, admitiu ataques com explosivos contra a polícia –, também operam no país gangues de narcotráfico de origem paramilitar e dissidências das Farc, que lutam pelo controle territorial em meio a uma espiral de violência seletiva contra líderes sociais, que já deixou 438 mortos desde janeiro de 2016. 

Há um ano, a polícia também foi alvo de um ataque a bomba dentro de uma delegacia em Barranquilla. Seis militares morreram e 40 ficaram feridos. Dias depois, o ELN, cuja delegação de paz está em Havana, assumiu a ação.

O ELN era considerado uma ameaça militar menor do que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), cujo acordo de paz, firmado em 2016, desarmou os 7 mil guerrilheiros. Por décadas, moradores de Bogotá viveram sob atentados de bombas de rebeldes de extrema esquerda ou pelo cartel de drogas de Pablo Escobar.

Negociações de paz

O atentado praticamente encerrou as conversas de paz do governo com o grupo, que executou 33 ataques e nove sequestros desde que o presidente Iván Duque tomou posse em agosto.

A taxa de homicídios da Colômbia aumentou no ano passado, invertendo uma longa tendência de queda, enquanto grupos ilegais lutaram por controle de território e da produção de cocaína. O maior grupo de guerrilha da nação, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), entregou as armas após um acordo de paz em 2016, mas o ELN, que é menor, e outros grupos de narcotráfico rapidamente se moveram para ocupar as áreas que abandonadas pelas FARC. 

As negociações entre o governo e o ELN foram interrompidas após a posse em agosto do presidente Iván Duque, que insistiu que o grupo parasse de cometer ataques terroristas, entregasse reféns e parasse com os sequestros como condição para o diálogo. Duque acredita que agora não há espaço para o diálogo com os rebeldes, disse o comissário de Paz, Miguel Ceballos, ao lado do ministro da Defesa. 

O ataque de quinta-feira foi o pior desde uma explosão em 2003 em um clube social de luxo que deixou mais de 30 mortos. O terrorismo atingiu o ápice durante uma campanha de bombas do cartel de Medelín de Pablo Escobar nos anos 1980 e 1990. Em Bogotá, 35 dispositivos explosivos foram detonados nos últimos cinco anos, de acordo com dados do Centro de Recursos para a Análise de Conflitos (Cerac), mas a última detonação de carro-bomba foi em 2006. 

Uma bomba que tinha como alvo um ex-ministro da Justiça matou três pessoas perto do distrito financeiro de Bogotá em maio de 2012. Uma explosão em um shopping de luxo em Bogotá, em 2017, também matou três. 

A produção de coca, matéria-prima para a fabricação de cocaína, mais do que triplicou nos últimos cinco anos, alimentando a violência em grandes áreas do país. 

O acordo de paz com as FARC encerrou um conflito que durou mais de cinco décadas. Quando as conversas entre o governo e o ELN pararam no ano passado, o grupo intensificou suas operações, executando dezenas de ataques em dutos de petróleo em áreas rurais. O último ataque urbano do grupo foi feito um ano atrás em Barranquilla, na costa do Caribe, quando um dispositivo foi detonado em uma estação de polícia, segundo o Cerac. 

“Eles estão tentando invadir o vácuo de poder que as FARC deixaram e aumentar sua relevância por meio do narcotráfico e ligações com o cartel de Sinaloa”, no México, disse Sergio Guzman, diretor de Análise de Risco da Colômbia em Bogotá. “No passado, eles atacaram instalações da polícia e do governo. Eu imagino que isso deva continuar e se intensificar”.

O ataque poderia ajudar a reforçar o caso do governo Trump para rotular a Venezuela como patrocinadora do terrorismo, uma ideia que vem sendo considerada pela administração. 

“Na medida em que um grupo que está se refugiando naquele país está agora realizando ataques letais, certamente reforça o caso”, disse Isacson. 

A Venezuela se juntou na quinta-feira a outros governos estrangeiros para condenar o ataque, chamando-o de “ato terrorista”. 

Ao rotular o país como patrocinador do terror, os EUA precisam mostrar que o ELN está operando com a permissão “tácita ou declarada” do governo venezuelano, disse Isacson.

Os autores

O governo disse que o “autor” do ataque, o motorista do veículo, era um alto membro do ELN que tinha histórico de trabalhar com explosivos. 

Os promotores disseram que um segundo homem, também acusado de ser um militante do ELN, foi preso nas primeiras horas da manhã em Bogotá sob acusação de homicídio e terrorismo agravados. 

“O ELN é responsável pelo terrível ataque à Academia de Polícia General Santander”, disse o ministro da Defesa, Guillermo Botero. “Nós vamos encontrar os responsáveis por este ato irracional, e eles enfrentarão a justiça. Este crime não ficará impune”. 

Botero disse que o motorista, José Aldemar Rojas, era militante do ELN por mais de 25 anos, liderando algumas de suas frentes armadas e coordenando operações com explosivos. Ele usava o pseudônimo El Mocho, por ter perdido a mão direita em uma detonação (“mocho” é canhoto, em espanhol). Embora Rojas não tivesse antecedentes criminais, ele havia sido investigado por seu papel no ELN. Impressões digitais foram usadas para identificar o corpo, de acordo com funcionários do governo. 

O ataque a bomba também levanta questões sobre a segurança de algumas das instalações policiais e militares do país. Embora a academia de cadetes tivesse um posto de controle e cães farejadores na entrada principal, Rojas atravessou uma entrada lateral, desviando do posto de controle enquanto algumas motocicletas deixavam a instalação. Depois de ter sido confrontado por um oficial, ele bateu em uma parede, detonando os 80 quilos de explosivos do lado de fora de um dormitório feminino. Entre os feridos estão vários recrutas policiais dos vizinhos Panamá e Equador. 

Duque retornou à capital de uma viagem à costa do Pacífico na quinta-feira para supervisionar a investigação. Num discurso no final da noite, ele chamou o atentado de “lamentável ataque terrorista” e prometeu ir atrás do grupo responsável, confiscando seus bens e combatendo as atividades ilegais que lhes permitiram operar. 

“Não cederemos a atos de terror. A Colômbia está determinada. [O país] não será intimidado nem cederá aos criminosos”, disse ele, ordenando o aumento das verificações e controles nas fronteiras e nas principais estradas para as grandes cidades do país. 

O analista político Ariel Avila disse à televisão Caracol que o recente ataque provavelmente significaria o fim das negociações de paz entre o governo e o grupo. “O processo de paz com o ELN está morto”, disse ele. “Hoje não há caminho para negociação”. 

Ele alertou, no entanto, que tentar derrotar o grupo guerrilheiro, que opera na Colômbia desde a década de 1960, seria “longo e doloroso”.

Com informações do Washington Post e da Folhapress.

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