A figura é de um homem de boa aparência, com cabelos encaracolados enfeitados com coroa de louros, barba alinhada e um bigode hipster. Segundo o historiador Mark Griffiths, a imagem mostra a real representação do dramaturgo britânico William Shakespeare (1564-1616) – bem diferente do que até então imaginávamos. Nem todos concordam.
A suposta descoberta foi feita quando Griffiths trabalhava na biografia do botânico britânico John Gerard (1545-1612), em 2012. Ele reparou em um desenho que aparecia em um de seus livros. A princípio, não identificou um dos personagem que aparecia no “The Herball”, escrito no século 16 e considerado o maior livro de botânica escrito em inglês, do qual só restam de 10 a 15 cópias.
Após analisar a figura, Griffiths interpretou um código da dinastia dos reis Tudor, que o levou à conclusão que o retrato era de William Shakespeare. Segundo o editor Mark Hedges, revista Country Life, que primeiro publicou a notícia, essa é a “descoberta do século na literatura”.
Porém, nem todos concordam e, tampouco, acreditam na imagem, conforme reportagem publicada pelo “The Guardian” nesta quarta-feira (20). Muito por conta da narrativa à la Dan Brown da descoberta e de onde ela estava, um livro de botânica.
O diretor do Shakespeare Institute, na Universidade de Birmingham, Michael Dobson, se disse descrente da teoria. “Não vi os argumentos detalhadamente, mas a Country Life não é a primeira a afirmar ter descoberto o verdadeiro rosto de Shakespeare”, diz.
“Existe muita gente que já fez essa alegação e disse ter descoberto códigos que não foram decifrados por 400 anos”, pontua com desconfiança. “Eu não consigo imaginar porque haveria um retrato de Shakespeare em um livro de botânica. É uma gravura bonita, no entanto”, diz.
O estudioso da obra do dramaturgo Stanley Wells também discorda. “Então Shakespeare aparentemente andava por aí vestido com fantasias e segurando sabugos de milho”, twittou em tom irônico.
As desconfianças resgatam também a história de outras imagens que, supostamente, retratavam o verdadeiro Shakespeare. A mais recente foi anunciada em 2009, quando uma família irlandesa descobriu em sua coleção uma pintura que, como alegaram, era a representação do escritor ainda vivo.
Estudiosos, no entanto, logo rechaçaram a alegação.
Até hoje, apenas duas imagens continuam largamente aceitas como representações legítimas. Uma é um busto esculpido pouco depois da morte do dramaturgo, que está na igreja da Santíssima Trindade em Stratford-upon-Avon – sua cidade natal.
A outra, uma gravura em cobre datada de 1623, inserida na primeira página do seu “Primeiro Fólio” (primeiro volume), que reuniu a obra do dramaturgo e foi publicada postumamente em 1623.
Ambas, no entanto, são imagens póstumas. Resta saber se os novos estudos provarão que o alegado novo retrato realmente representa o escritor aos 30 anos, embora haja poucas semelhanças com estas outras obras – nas quais ele é representado na casa dos 40.
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