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Com o anúncio, nesta quarta-feira (24), do acordo da coalizão de três partidos que deve governar a Alemanha pelos próximos quatro anos – formada pelos partidos Social Democrata (SPD), Verde e Democrático Liberal (FDP) -, o mundo passa a conhecer melhor um nome que já é familiar aos alemães há décadas e que deve encerrar a era Angela Merkel: Olaf Scholz deve ser o novo chanceler do país.
Scholz, de 63 anos, nascido em Osnabruque, na Baixa Saxônia, cresceu em Hamburgo, cidade da qual foi prefeito na década passada. Em 1975, quando ainda estava no ensino médio, ingressou no SPD. Como advogado trabalhista, defendeu operários.
Com raízes socialistas na juventude, foi se tornando menos radical ao longo dos anos e ganhou fama de pragmático e austero e o apelido de “Scholz-o-mat” (algo como “Scholz-automático”), porque seria mais “robô” do que humano. Como secretário-geral do SPD durante a gestão de Gerhard Schröder (1998-2005), defendeu reformas sociais e trabalhistas criticadas pela ala mais à esquerda do partido.
Prefeito de Hamburgo entre 2011 e 2018, Scholz depois se tornou vice-chanceler e ministro das Finanças na coalizão entre o SPD e a aliança União Democrata-Cristã/União Social-Cristã (CDU/CSU) de Merkel, chamada de “grande coalizão”. Foi o responsável pelo pacote de auxílio durante a pandemia na Alemanha e também atuou para a elaboração do fundo de recuperação da União Europeia (UE).
Em setembro, o SPD de Scholz venceu as eleições parlamentares alemãs com 25,7% dos votos, uma margem estreita sobre a CDU/CSU de Merkel, liderada por Armin Laschet, que obteve 24,1% dos votos.
Além da capacidade de adaptação, Scholz é conhecido pelo perfil discreto – o que faz muitos analistas enxergarem uma continuidade do estilo de Merkel à frente do Executivo alemão.
“Ele é como um jogador de futebol que estudou os vídeos de outro jogador e mudou seu estilo de jogo”, disse o analista político Robin Alexander, ao The New York Times. “Desde temperamento e estilo político até a expressão facial, Scholz agora ‘canaliza’ Merkel. Se Scholz fosse uma mulher, ele usaria terninhos.”
Para Andreas Kluth, colunista da Bloomberg, o poder de adaptação e conciliação de Scholz terá agora seu maior teste, não só pela importância do cargo que será assumido pelo ex-prefeito de Hamburgo, mas porque a coalização que irá governar a Alemanha “será um experimento” para o país.
“Pela primeira vez no nível federal, os social-democratas - que produziram apenas três dos oito chanceleres da Alemanha do pós-guerra - governarão tanto com os ambientalistas verdes quanto com os democratas liberais pró-mercado. Os sociais-democratas descendem do marxismo do século 19, os verdes da contracultura dos anos 1970 e os democratas liberais, na sua encarnação atual, do neoliberalismo. Fazer com que este trio cante afinado não será fácil”, alertou.
Este mês, durante as viagens de Luiz Inácio Lula da Silva pela Europa, Scholz se encontrou com o ex-presidente brasileiro em Berlim. O alemão deu RT a uma mensagem de Lula no Twitter falando da conversa e acrescentou um recado ao petista: “Estou muito satisfeito com nossas boas discussões e espero continuar nosso diálogo!”.