Partido mais votado nas eleições parlamentares da Eslováquia no sábado (30), com 23% dos votos, a legenda de esquerda Smer, liderada pelo populista Robert Fico, quer colocar o sentimento pró-Rússia no centro da OTAN, aliança militar cujos integrantes em sua maioria apoiam a Ucrânia desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.
Fico, que recebeu nesta segunda-feira (2) da presidência da Eslováquia a tarefa de tentar formar uma coalizão para governar o país, prometeu durante a campanha que cortaria a ajuda militar à Ucrânia caso saísse vencedor.
Embora não pareça muito em termos absolutos (cerca de US$ 738 milhões até o final de julho), a ajuda militar da Eslováquia à Ucrânia é uma das cinco maiores da Europa em termos de proporção do Produto Interno Bruto (aproximadamente 0,6%).
Também foi importante por incluir 13 caças MiG, as primeiras (junto com a Polônia) aeronaves de combate que a Ucrânia recebeu da OTAN no conflito, e por ter sido o primeiro país da União Europeia a apoiar Kiev com um sistema de mísseis antiaéreos, o S-300, entre outros pontos.
Fico, um populista de esquerda de 59 anos, é advogado especializado na área criminal e entrou na política na década de 1980, filiando-se ao Partido Comunista da Tchecoslováquia.
Foi eleito pela primeira vez membro do Parlamento em 1992. Seu auge foi ocupar o posto de primeiro-ministro da Eslováquia entre 2006 e 2010 e entre 2012 e 2018, cargo ao qual tenta voltar agora.
Renunciou ao seu último mandato após o assassinato do jornalista investigativo Ján Kuciak, que apurava casos de corrupção e a atuação da máfia italiana 'Ndrangheta na Eslováquia: Mária Trosková, assessora de Fico, teria ligações com o grupo criminoso.
Agora, o ex-premiê voltou a ficar em evidência pela postura pró-Rússia na guerra. Embora garanta que a Eslováquia ajudará Kiev do ponto de vista humanitário, Fico prometeu que, caso consiga formar uma coalizão, seu governo não enviará mais ajuda militar aos ucranianos.
“Em vez de enviar armas para Kiev, a União Europeia e os Estados Unidos deveriam usar a sua influência para forçar a Rússia e a Ucrânia a chegarem a um compromisso de paz”, disse o esquerdista.
Em outros momentos, foi mais incisivo, ao negar a entrada da Ucrânia na OTAN, que para ele representaria “o início da Terceira Guerra Mundial”.
“A guerra na Ucrânia não começou no ano passado, começou em 2014, quando nazistas e fascistas ucranianos começaram a assassinar cidadãos russos no Donbass e em Lugansk”, disse Fico em agosto. “Precisamos dizer ao mundo inteiro: a liberdade veio do leste, a guerra sempre vem do Ocidente.”
O apoio militar à Ucrânia e as sanções contra a Rússia nunca foram unanimidade na OTAN, ainda que a maioria da aliança militar ajude Kiev.
A Turquia, embora tenha enviado ajuda militar à Ucrânia e condenado no ano passado a anexação russa de quatro regiões ucranianas, se nega a impor sanções à Rússia e a ajuda a contornar sanções do Ocidente. O presidente Recep Erdogan diz ter uma “relação especial” com Vladimir Putin.
Já a Hungria, do primeiro-ministro Viktor Orbán (também próximo de Putin), vetou parcelas do apoio militar da União Europeia à Ucrânia, se recusou a fornecer armas a Kiev, não permitiu que a sua fronteira com a ex-república soviética fosse utilizada para repasse de armamentos de outros países e criticou as sanções à Rússia.
Em setembro, a Polônia anunciou que deixaria de enviar ajuda militar à Ucrânia. Com a promessa de Fico de também retirar o apoio eslovaco, a onda pró-Rússia cresce dentro da OTAN – e Moscou agradece.