Independentemente de ganhar ou não o segundo turno da eleição presidencial da Colômbia, que será realizado em 19 de junho, Rodolfo Hernández já é a grande surpresa da disputa.
No final de março, as pesquisas apontavam que o empresário apelidado de “Donald Trump colombiano” tinha cerca de 10% das intenções de voto. Hernández foi subindo de patamar e na reta final do primeiro turno já estava empatado com o segundo colocado, Federico “Fico” Gutiérrez, ex-prefeito de Medellín e apoiado pelo Centro Democrático, partido do atual presidente, Iván Duque.
No domingo (29), Rodolfo Hernández teve 28% dos votos, tirou “Fico” do segundo turno e ficou atrás apenas do esquerdista Gustavo Petro, que teve 40%. Quatro simulações de segundo turno realizadas na semana retrasada mostraram o “Trump colombiano” empatado tecnicamente com o ex-guerrilheiro em três levantamentos e à frente em outro.
Hernández é comparado ao ex-presidente americano pela sua carreira como empresário e pelo discurso antissistema. Sua plataforma principal é a luta contra a corrupção - na apresentação de seu plano de governo, disse que “onde ninguém rouba, o dinheiro é suficiente”.
Seu perfil outsider se manifesta também no linguajar pouco político: durante a campanha, acusou seus críticos de serem “sem-vergonhas”, “ladrões” e viciados em drogas, ao mesmo tempo em que defendeu seu uso constante de palavrões. “É espontâneo, porque sou natural, porque aqui [na Colômbia] nas reuniões de amigos falamos assim”, justificou.
O empresário de sucesso, afastado da política tradicional e das castas colombianas, começou sua carreira em Bucaramanga, capital do departamento de Santander, no nordeste do país, de onde é natural e onde se tornou milionário no ramo da construção de habitações sociais.
Criado em uma família da classe trabalhadora, Hernández, de 77 anos, é casado com Socorro Oliveros e tem quatro filhos: Luis Carlos, Mauricio, Rodolfo José e Juliana, desaparecida após ser sequestrada pela guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) em 2004.
Em sua carreira política, fez do título de “engenheiro” algo indissociável de seu nome, dando a ideia de que por ser rico não precisaria roubar dos cofres públicos.
Hernández chegou ao poder em Bucaramanga de sua casa: comprou um apartamento do outro lado da rua, onde montou um escritório onde recebia a todos. As excentricidades também o seguiram até o gabinete da prefeitura, onde todas as segundas-feiras transmitia seu popular “Fale com o Prefeito” no Facebook.
O engenheiro chegou à disputa pela presidência com algumas polêmicas pelo caminho, como uma entrevista em 2016 na qual disse admirar “o grande pensador alemão” Adolf Hitler (depois disse ter se tratado de “um lapso”) ou quando agrediu um vereador da oposição da prefeitura de Bucaramanga em 2018, o que acabou levando à suspensão de seu mandato.
Apesar do discurso que se tornou uma bandeira, Hernández está envolvido em um caso de corrupção que remonta ao seu período como prefeito devido a supostas irregularidades em um contrato de consultoria para a gestão de lixo em Bucaramanga. O julgamento está marcado para depois das eleições.
Hernández conta com a rejeição histórica à esquerda, que nunca chegou à presidência na Colômbia, para vencer Petro. “Fico” declarou apoio ao empresário no segundo turno, assim como Íngrid Betancourt, mantida refém pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) entre 2002 e 2008, havia feito ao desistir de sua candidatura uma semana antes da primeira votação.
Políticos ligados ao ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) também estão manifestando apoio a Hernández, como María Fernanda Cabal, segunda senadora mais votada nas eleições legislativas de março.
“O triunfo de Rodolfo é o triunfo contra o establishment. O país precisa de mudanças, não do suicídio oferecido por Petro, mas sim da autoridade, da ordem e da prosperidade oferecidas por um empresário como Rodolfo Hernández”, escreveu no Twitter.