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O governo de Jovenel Moïse, assassinado a tiros na madrugada desta quarta-feira (7), foi marcado por acusações de corrupção e várias ondas de protestos violentos. Mais recentemente, o presidente do Haiti chamou atenção do mundo ao pedir apoio internacional justamente para acabar com a grave crise de segurança que assola o país. Saiba quem foi Moïse e os principais momentos de sua presidência.
Empresário
Presidente do Haiti desde 2017, Moïse nasceu em Trou du Nord, na região nordeste do Haiti, em 26 de junho de 1968. Era filho de um mecânico e agricultor e uma costureira.
Em 1974 mudou-se com a família para a capital do país, onde fez o ensino médio no colégio Toussaint e no centro cultural da escola Canado Haïtien, dirigida pelos Irmãos do Sagrado Coração.
Moïse estudou Ciências da Educação na Universidade de Quisqueya e em 1996 mudou-se para Porto-da-Paz, capital do departamento Noroeste, onde criou a empresa Jomar Auto Parts e, pouco depois, um sítio de 10 hectares dedicado ao cultivo da banana.
Em 2001, em conjunto com a empresa Culligan, realizou projetos para levar água encanada para áreas do nordeste e do noroeste do país.
Posteriormente, Moïse tornou-se secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria do Haiti (CCIH). Em 2008 virou sócio da empresa de energia solar e eólica Compagnie Haïtienne d'Energie (Comphener SA).
Já em 2012, por meio de sua empresa Agritrans, na qual ocupou os cargos de presidente e gerente, lançou em sua cidade natal o projeto agrícola Nourribio, uma plantação de banana de 10 hectares.
Vida política
Moise deixou os cargos de responsabilidade na Agritrans e, em 15 de setembro de 2015, lançou sua candidatura para as eleições presidenciais daquele ano pelo governante Partido Haitiano Tèt Kale (PHTK).
No primeiro turno das eleições presidenciais de outubro de 2015, Moïse foi o candidato mais votado, com 32,76%, e passou ao segundo turno de dezembro junto com Jude Celestin, da Liga Alternativa para o Progresso e a Emancipação do Haiti (LAPEH), que obteve 25,29%.
No entanto, denúncias de fraudes massivas a seu favor obrigaram o adiamento das eleições para a revisão dos resultados. Posteriormente, Celestin recusou-se a participar do segundo turno em 24 de janeiro de 2016, considerando que houve parcialidade do órgão eleitoral por consentir com a suposta fraude.
O Haiti ficou sem presidente quando o mandato de Michel Martelly terminou, em 7 de fevereiro de 2016, e, dias depois, Jocelerme Privert, presidente do Senado, assumiu o comando do país interinamente.
Em 6 de junho daquele ano, o novo Conselho Eleitoral Provisório invalidou os resultados de outubro de 2015 e convocou novas eleições presidenciais para 9 de outubro, com a presença de Moïse pelo PHTK.
Porém, a passagem do furacão Mateus dias antes das eleições, que deixou um saldo de quase 600 mortos, forçou seu adiamento.
Quando finalmente foi realizada, em novembro de 2016, Moise venceu a eleição presidencial no primeiro turno, com 55,60% dos votos.
Governo caótico
Duas semanas antes de sua posse, em 7 de fevereiro de 2017, o presidente eleito precisou testemunhar perante um juiz sobre suspeitas de lavagem de dinheiro, dentro de uma investigação iniciada em 2013.
Após substituir o interino Jocelerme Privert como chefe de Estado, Moïse nomeou em fevereiro o médico Jack Guy Lafontant, que não tinha qualquer experiência política, como primeiro-ministro.
A renúncia de Lafontant e de seu governo em julho de 2018, devido aos violentos protestos desencadeados pelo anúncio de um aumento no preço do combustível, levou Moïse a colocar o político e tabelião Jean Henry Ceant no cargo de primeiro-ministro do país.
Protestos e Petrocaribe
A troca não aplacou as manifestações, nas quais a população exigia saber a destinação dos fundos do Petrocaribe após suspeitas de corrupção, e Moïse decidiu apoiar uma investigação.
Os protestos ocorreram a partir de 7 de fevereiro de 2019, coincidindo com seu segundo aniversário no poder. No mês seguinte, o parlamento haitiano afastou o primeiro-ministro Ceant e Moïse indicou Jean-Michel Lapin para sucedê-lo.
Em 31 de maio de 2019, o Superior Tribunal de Contas encaminhou ao parlamento seu relatório sobre a destinação dos recursos da Petrocaribe e apontou que as empresas de Moïse e seu antecessor Martelly haviam se beneficiado de projetos milionários não executados.
A partir de 16 de setembro daquele ano começaram as manifestações exigindo a renúncia do presidente, em um momento marcado também pela falta de combustível, fome e insegurança.
Todo esse cenário levou à suspensão das eleições marcadas para outubro, razão pela qual o Congresso e o Senado foram fechados em janeiro de 2020, devido ao fim de seus mandatos.
Apesar desse vácuo, em março de 2020, Moise nomeou Joseph Jouthe, que dirigia o país interinamente por um ano, como primeiro-ministro.
Tentativa de golpe
Para 2021 estão previstas as eleições legislativas anteriormente adiadas, bem como a convocação das presidenciais, para setembro e novembro, das quais Moïse não poderia participar.
Com grande oposição de diversos setores que queriam que deixasse o poder em 7 de fevereiro de 2021, diante de uma interpretação diferente de seu mandato presidencial, que ele considerava que terminaria em 2022, o Conselho Superior da Magistratura Judicial emitiu naquele dia uma resolução declarando que seu mandato havia terminado.
Na ocasião, quando a oposição chegou a nomear o magistrado Joseph Mécène Jean Louis como presidente interino, Moïse classificou a decisão como uma tentativa de golpe.
Em junho de 2021, o presidente pediu apoio internacional e a colaboração de todos os setores da sociedade para acabar com a intensificação da violência das gangues armadas.
Em 5 de julho de 2021, nomeou Ariel Henry como o novo primeiro-ministro com a tarefa de formar um governo de consenso que integrasse diferentes setores da vida política do país. O quinto indicado por Moise para o cargo de primeiro-ministro deveria enfrentar a grave crise de segurança e apoiar a organização das eleições presidenciais e legislativas.
No entanto, tudo mudou hoje, quando Moise foi assassinado por homens armados que invadiram sua residência em Porto Príncipe. No ataque, a primeira-dama, Martine Moise, com quem estava casado desde 1996, também foi baleada.