Ismail Haniyeh era o atual líder político do Hamas, o grupo terrorista palestino islâmico que desde 2007 controla a Faixa de Gaza e que lançou, no dia 7 de outubro o mais letal ataque contra Israel em 50 anos, que matou mais de mil pessoas no território israelense.
Na noite desta terça-feira (30), a mídia estatal iraniana e a própria milícia afirmaram que ele foi morto em um ataque direcionado em Teerã.
No texto a seguir, apresentaremos o perfil do homem que desafiou o poderio militar israelense e provocou uma nova crise humanitária no Oriente Médio.
Origem e ascensão ao poder
Ismail Haniyeh nasceu em 29 de janeiro de 1963 em um campo de refugiados próximo da cidade de Gaza, onde ele viveu uma boa parte da sua vida. Ele se formou em Literatura Árabe na Universidade Islâmica de Gaza no ano de 1987 e logo após isso se envolveu com um movimento estudantil ligado à Irmandade Muçulmana, a organização islâmica que serviu de base para a origem do Hamas.
Ainda em 1987, Haniyeh foi preso pela polícia de Israel por participar da Primeira Intifada, a revolta popular palestina contra os israelenses. No entanto, ele foi liberado da prisão pouco tempo depois. Mais tarde, em 1988, foi novamente preso por envolvimento em um atentado terrorista. Dessa vez, Haniyeh foi condenado a três anos de prisão.
Em 1992 ele foi deportado para o Líbano junto com outros membros do Hamas. No entanto, acabou retornando para Gaza cerca de um ano após sua deportação.
Com o passar do tempo, Haniyeh se tornou um dos principais assessores do xeque Ahmed Yassin, que foi um dos fundadores e é o líder espiritual do Hamas. Yassin foi morto pelas Forças de Defesa de Israel em 2004 e é considerado por autoridades do país como o homem que esteve por trás de diversos ataques terroristas do Hamas que ocorreram no território israelense.
A relação de Haniyeh com a liderança do Hamas foi ficando ainda mais intensa após ele se aproximar de Khaled Meshaal, que foi o líder do grupo terrorista até 2017.
Em 2006, Haniyeh participou da corrida eleitoral pelo Hamas nas eleições legislativas palestinas, onde o grupo terrorista derrotou uma de suas principais organizações rivais, o Fatah, do atual presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Naquele momento, Haniyeh se tornou o primeiro-ministro do governo palestino de união nacional, mas enfrentou um boicote internacional por causa da recusa do Hamas em reconhecer Israel como um Estado e renunciar à violência.
Em 2007, após um conflito armado entre o Hamas e o Fatah, Haniyeh foi demitido de seu posto como primeiro-ministro do governo palestino por Abbas, que era o presidente da Palestina. No entanto, o Hamas tomou a Faixa de Gaza e desde então controla a região.
Desde a guerra entre as duas organizações os palestinos vivem divididos entre dois governos rivais: o da Autoridade Palestina na Cisjordânia, comandado por Abbas, e o do Hamas em Gaza, atualmente liderado por Haniyeh.
Em 2017, quando Meshaal deixou o posto de chefe do grupo terrorista, Haniyeh foi aclamado como o novo líder político do Hamas. Desde então, ele passou a morar no Catar, onde segundo informações, recebe apoio financeiro e político das autoridades do país que é rico em petróleo.
Ideologia e pensamento
Segundo informações da BBC, Haniyeh é considerado um líder “pragmático” dentro do Hamas, disposto a negociar com outros países árabes condições para "aliviar" as dificuldades enfrentadas pelos 2 milhões de palestinos que habitam em Gaza.
Ele defende uma reconciliação com o Fatah e a formação de um novo governo palestino de consenso nacional, que dessa vez possa representar “todos os palestinos” no Oriente Médio.
Haniyeh quer a criação de um Estado palestino que não reconheça formalmente a existência de Israel.
O líder do Hamas é um fiel seguidor da ideologia islâmica que propaga a jihad – ou guerra santa – como sendo o único meio de “resistir” ao Estado de Israel. Ele segue inteiramente a Carta de Princípios de 1988 do grupo terrorista e prega que a Palestina deve ser “liberta” dos israelenses.
Haniyeh sempre foi um adepto do conflito contra Israel, nunca hesitou em ordenar ataques contra alvos civis e militares israelenses, usando foguetes, túneis, homens-bomba e combatentes infiltrados.
O líder do grupo terrorista é influenciado pelo pensamento da Irmandade Muçulmana, que defende a aplicação da lei islâmica (a sharia) na sociedade e no Estado. Ele também é inspirado pelo exemplo do Irã, o principal aliado do Hamas no Oriente Médio, que é um regime islâmico liderado por muçulmanos xiitas.
Extensão do poder e estilo de vida
Haniyeh não comanda o Hamas sozinho. Atualmente, ele divide o poder dentro do grupo terrorista com outros 15 membros que fazem parte de uma espécie de conselho político. Esse conselho é considerado como o órgão máximo de decisão do grupo.
Além disso, o Hamas conta com suas lideranças militares, que são responsáveis pela ala armada do grupo. Essas lideranças militares são coordenadas diretamente por Haniyeh e são chamadas de Brigadas al-Qassam.
Os principais líderes militares do Hamas atualmente são Mohammed Deif e Marwan Issa, que vivem escondidos na cidade de Gaza e são alvos constantes de Israel.
Deif é considerado o cérebro por trás dos ataques ocorridos no sábado contra o território israelense. Ele já escapou de pelo menos oito tentativas de assassinato. Já Issa é o responsável pelas operações militares na região central da Faixa de Gaza.
Em Gaza, Haniyeh conta com alguns grupos jihadistas aliados, como a Jihad Islâmica Palestina, que é ainda mais radical que o Hamas.
A ida de Haniyeh para o Catar foi uma forma que ele encontrou de obter uma vida “confortável e segura”. Segundo informações de agências internacionais de notícias, ele vive em Doha, a capital do país, em uma mansão luxuosa e tem acesso a diversos recursos financeiros e políticos fornecidos pelas autoridades do Catar.
Do local, Haniyeh pode viajar frequentemente para outros países árabes e islâmicos, como o Irã, onde sempre vai procurar apoio para sua causa palestina.
Haniyeh atualmente é casado com Amal Haniyeh e, segundo informações, tem 13 filhos.
Aliados e fortuna
O líder do Hamas tem como principais aliados os países que apoiam a causa do grupo terrorista e o movimento de “resistência” dos palestinos contra o Estado de Israel. Entre esses países estão o Irã e o Catar.
Haniyeh ainda conta com o apoio de outros grupos terroristas islâmicos do Oriente Médo, como o Hezbollah no Líbano, a Irmandade Muçulmana no Egito e o Talibã no Afeganistão.
A relação entre o Hamas e o Fatah segue ambígua, pois Haniyeh é um crítico da postura “moderada” do presidente Mahmoud Abbas com relação ao Estado de Israel. Haniyeh ainda acusa Abbas de “trair a causa palestina”.
Haniyeh tem como inimigos os países que se opõem ao Hamas e à violência do grupo terrorista contra Israel. Entre eles estão os Estados Unidos, a União Europeia e o Reino Unido. Esses países consideram o Hamas uma organização terrorista e impuseram ao grupo sanções econômicas e diplomáticas.
Não há informações precisas sobre a fortuna pessoal de Haniyeh, mas estima-se que ele seja um dos líderes mais ricos do Hamas. De acordo com um artigo escrito por Ella Levy-Weinrib para o jornal financeiro israelense Globes em 2014, estima-se que Haniyeh possua uma fortuna de US$ 4 milhões (R$ 20 milhões). Dado o tempo que se passou desde essa última informação, é provável que o líder do grupo terrorista tenha ampliado ainda mais a sua fortuna e também sua influência.
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