O resultado da primeira prévia democrata, em Iowa, surpreendeu ao mostrar o moderado Pete Buttigieg na liderança, com uma estreita margem à frente do senador Bernie Sanders, o candidato mais à esquerda entre os democratas, mas com uma larga vantagem sobre o ex-vice-presidente Joe Biden, que amargou o quarto lugar, apesar de estar em primeiro nas pesquisas nacionais.
Quem é o azarão?
Buttigieg começou sua campanha como um praticamente desconhecido prefeito de South Bend, uma cidade de 100 mil habitantes em Indiana. Prova disso é que ele frequentemente tem que responder à pergunta: "como se pronuncia seu sobrenome?" Desde que lançou sua candidatura, no ano passado, vários jornais americanos fizeram vídeos e matérias a respeito do sobrenome nada comum do prefeito Pete, como ele é mais conhecido. Memes e vídeos engraçados também não faltam. "Meu sobrenome, Buttigieg, é muito comum no país de origem de meu pai, na pequena ilha de Malta e em nenhum outro lugar", escreveu o candidato em um blog em 2016.
Com 38 anos, Buttigieg é o mais jovem candidato nas primárias democratas e, por consequência, é um dos menos experientes na política se comparado aos seus principais adversários, como os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren e o ex-vice-presidente dos EUA, Joe Biden. O único cargo eletivo que ocupou foi o de prefeito de South Bend, por dois mandatos consecutivos. Foi eleito a primeira vez aos 29 anos.
No fim do seu primeiro mandato, Buttigieg foi destacado para o Afeganistão como oficial da Marinha. Ele passou sete meses lá, período em que o vice-prefeito assumiu o governo de South Bend, e na volta recebeu uma medalha de louvor - e foi reeleito com 80% dos votos. Antes de começar sua carreira pública, ele estudou em Harvard e Oxford e trabalhou na consultoria empresarial McKinsey por três anos.
Mas o que destaca o prefeito Pete dos seus rivais na corrida democrata é o fato de ele ser o primeiro candidato a presidente dos Estados Unidos assumidamente gay. Em 2015, quando estava concorrendo ao segundo mandato em South Bend, ele assumiu publicamente que era homossexual e dois anos depois anunciou o seu noivado com Chasten Glezman, professor de ensino médio, com quem casou em julho de 2018.
"Sou o único canhoto-americano-maltês-episcopal-gay-millennial-veterano de guerra na corrida presidencial", resumiu o próprio Buttigieg para o jornal New York Times.
Em 2016, o ex-presidente dos EUA Barack Obama citou Pete Buttigieg como um dos jovens talentos do Partido Democrata, junto com a senadora Kamala Harris, que acabou desistindo de concorrer nas primárias democratas deste ano.
O que ele defende?
Alguns temas são muito sensíveis para o eleitorado americano, como o sistema de saúde, aborto, salário mínimo e mudanças climáticas. Veja o posicionamento do candidato sobre os temas mais espinhosos da campanha.
Economia: assim como os demais candidatos democratas, o prefeito Pete é a favor do aumento do salário mínimo para US$ 15/hora com futuros reajustes que compensem a inflação. É a favor do fortalecimento dos sindicatos de trabalhadores dos Estados Unidos, inclusive para profissões como motorista de Uber. Defede a necessidade de o governo federal estimular o empreendedorismo em comunidades carentes. Também é a favor de criar um programa de licença médica e familiar, que permita até 12 semanas de afastamento pago.
Mudanças climáticas: quer que os Estados Unidos invistam em energia e agricultura que não agridam o meio-ambiente. Propõe taxar as emissões de carbono e não emitir mais licenças para extração de gás e óleo em terras federais. O candidato também apoia a manutenção das usinas nucleares como uma importante fonte energética para o país.
Aborto: é a favor do aborto. Em entrevista para a Fox News ele disse: "O melhor que posso oferecer é que, se não concordarmos com onde traçar a linha [sobre quando começa a vida], a próxima melhor coisa que podemos fazer é concordar com quem deve traçar a linha. E, na minha opinião, é a mulher que enfrentou essa decisão em sua própria vida".
Acesso à saúde: é contra o sistema de saúde universal, proposto pelos candidatos democratas mais à esquerda, devido ao alto custo que ele teria para o país (estimado mais de US$ 30 trilhões em uma década) e por forçar os cidadãos a aderir um plano de saúde governamental. Buttegieg disse que os candidatos que apoiam o "Medicare for All" não estão demonstrando "consideração suficiente pelo povo americano para tomar suas próprias decisões".