A eleição para a liderança do Partido Conservador e, consequentemente, para novo primeiro-ministro do Reino Unido entra na fase decisiva em agosto, quando os cerca de 160 mil membros da legenda vão votar por correio em um dos dois candidatos que passaram nas fases preliminares do processo (em que apenas os parlamentares conservadores votaram): o ex-ministro da Economia Rishi Sunak, de 42 anos, e a ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, de 47.
Ambos terão a missão de estabilizar o Partido Conservador e o país após o mandato tumultuado de Boris Johnson, que anunciou sua saída do cargo em 7 de julho.
Devido a opiniões diferentes sobre a condução da economia britânica, Sunak havia deixado o Executivo dois dias antes. Sua saída foi uma das primeiras de uma debandada de dezenas de funcionários da gestão Johnson, acuado por escândalos e que não viu alternativa a não ser renunciar.
Truss, por sua vez, permaneceu no governo, ainda que tenha dito desde então que o atual primeiro-ministro não fará parte da sua gestão caso seja a vencedora.
Candidatos jovens do Partido Conservador (ao menos na comparação com os antecessores Theresa May, que tinha 59 anos quando se tornou primeira-ministra, e Boris Johnson, que tinha 55), Sunak e Truss têm outras semelhanças, como a defesa do Brexit e escândalos que quase comprometeram suas carreiras, mas agora terão a tarefa de mostrar ao eleitor de base da legenda suas diferenças para angariar votos.
Sunak é filho de imigrantes africanos de ascendência indiana e, se eleito, será o primeiro hindu a ser primeiro-ministro do Reino Unido. Ele estudou filosofia, política e economia na Universidade de Oxford e depois foi analista do banco Goldman Sachs e sócio de dois fundos de hedge. É casado com Akshata Murthy, filha de Narayana Murthy, bilionário indiano que foi um dos fundadores da empresa de serviços de tecnologia da informação Infosys. O casal tem duas filhas.
A situação fiscal de Akshata e as revelações na imprensa de que o próprio Sunak seria beneficiário de fundos em paraísos ficais (ele nega) geraram constrangimentos no primeiro semestre deste ano, quando ele já era ministro da Economia. Antes, havia sido eleito parlamentar em 2015 e ocupado outros cargos nos governos de Theresa May e Boris Johnson.
Ministro da Economia desde 2020, Sunak coordenou a resposta econômica à pandemia e um pacote de 350 bilhões de libras em apoio governamental lhe rendeu altos índices de aprovação, embora a inflação desde o final do ano passado tenha retirado parte desses dividendos políticos – assim como uma multa por envolvimento no Partygate, o escândalo em que membros do Executivo britânico se reuniram em festas durante o lockdown enquanto proibiam que a população fizesse o mesmo.
Também ex-estudante de Oxford, Truss foi militante de esquerda e chegou a defender o fim da monarquia, mas depois migrou para o conservadorismo. Trabalhou como contadora na Shell e na empresa de telecomunicações Cable & Wireless.
Casada e mãe de duas filhas, Truss foi eleita pela primeira vez para o Parlamento britânico em 2010, mas quase perdeu o apoio no seu distrito eleitoral dois anos depois devido à revelação de um caso extraconjugal com o parlamentar conservador Mark Field.
Truss se manteve no cargo e no mesmo ano entrou para o Executivo, onde exerceu cargos nas áreas de Educação, Meio Ambiente e Agricultura, Justiça, Economia, políticas para a mulher e Relações Exteriores – é ministra desta pasta desde setembro do ano passado.
Ao contrário de Sunak, que foi apoiador do Brexit desde o primeiro momento, Truss defendeu que o Reino Unido permanecesse na União Europeia, mas após o referendo em que a população britânica optou pela saída do bloco, mudou de opinião. Ela tenta se tornar a terceira premiê mulher do país – as duas anteriores, Margaret Thatcher e Theresa May, também eram do Partido Conservador.
Em 5 de setembro, o Reino Unido e o mundo saberão quem dos dois substituirá Boris Johnson. Sunak liderou as votações entre os parlamentares, mas entre o eleitorado de base conservador, Truss é a favorita: uma pesquisa realizada na semana passada pelo instituto YouGov mostrou que ela tem 54% das intenções de voto, enquanto seu rival tem 35%.