Os conflitos étnicos de um país que ainda tem de lidar com a fome e a pobreza são as provas de fogo constantes pelas quais passa a Cruz Vermelha do Quênia (CRK). Não bastasse isso, desde 2001 o líder da CRK, Abbas Gullet, reverteu uma dívida relacionada à corrupção. Nas mãos de Gullet de sorriso fácil, terno impecável e um telefone celular que não para de tocar a CRK se tornou uma rede de assistência de destaque em um país onde não faltam organizações não governamentais.
No momento, a CRK está imbuída de ajudar a população que sofre com chuvas e enchentes desde março. Cerca de cem pessoas morreram e outras 100 mil precisaram deixar suas casas. Mas Gullet sabe que haverá novo desafio em meses. "Agora temos inundações e a água vai ao subsolo, ao oceano Índico ou ao Lago Vitória. E, em poucos meses, talvez tenhamos uma seca".
Órfão desde criança, Gullet foi adotado e criado na cidade de Mombaça. Na escola começou os mais de 40 anos de relação com a Cruz Vermelha aprendendo primeiros socorros. Desde então, trabalhou para a organização em países da África e na Suíça, onde foi o primeiro africano a ser vice-secretário-geral.
O chefe da CRK assegura que sua meta é "ser a melhor agência humanitária do país: os primeiros a chegar e os últimos a sair". Não estão longe: com quase 800 trabalhadores e 70 mil voluntários, a entidade chega a quase todos do país.
Essa coesão foi testada durante a violência pós-eleitoral de 2007 e 2008, na qual morreram cerca de 1,3 mil pessoas. "Se penso nesse período, vejo gente morta, queimada, pessoas cujas casas tinham sido destruídas, moradores lutando contra vizinhos", lembra, com olhar perdido.
Houve ainda a seca que castigou o norte do país e provocou fome entre 2010 e 2012. A situação fez com que Gullet defendesse prioridade para a soberania alimentar do país. "Não se pode estar distribuindo ajuda todos os dias. É preciso encontrar soluções aos problemas", disse.