Um conflito entre sem-terra e a polícia no país vizinho matou 17 pessoas no último dia 15 e foi responsável por desencadear a maior crise política da história recente do Paraguai. O caso tem o peso das questões agrárias que geram confrontos desse tipo no mundo todo e, em torno delas, foram criadas articulações internacionais como a Via Campesina, que orientam os manifestantes envolvidos nessas causas.
A Via é uma entidade que reúne organizações espalhadas por quase todos os continentes. No Brasil, o braço mais conhecido é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No Paraguai, a representação é feita pelo Movimento Campesino Paraguaio (MCP) e pela Organização de Luta pela Terra (OLT).
"A Via Campesina é uma articulação que surgiu para denunciar contradições e desigualdades que existem dentro do campo", explica Robson Formica, historiador e militante do MST. Segundo ele, os integrantes da entidade tentam forçar o diálogo com os governos em nome de determinadas reivindicações.
Reforma
Uma das maiores reivindicações das organizações vinculadas à Via Campesina é a reforma agrária. Alcides Leite, economista da Escola de Negócios Trevisan, afirma que a pauta está desatualizada para países como o Brasil. "Hoje, a discussão sobre igualdade social não passa diretamente pela questão rural em países industrializados. Há questões como saúde e educação que são até mais importantes", diz.
Leite critica a capitalização da reforma agrária pelos movimentos de esquerda, como a Via Campesina. "Essas organizações utilizam oportunismos políticos e ideologias totalitárias. É preciso desenvolver mecanismos institucionais, que auxiliem o Estado a promover essas reformas."
Violência
Um elemento que marca a ação de entidades ligadas à Via Campesina é a violência em confrontos com participação de camponeses. Para Jakeline Pivato, representante da organização no Paraná, conflitos como o do Paraguai, ocorrido em 15 de junho, refletem a maneira como os governos lidam com ocupações rurais. "Existe uma violência [dos Estados] que não gera sangue. É o caso das expulsões de trabalhadores de suas terras e a falta de oportunidade", diz.
Rafael Filippin, do Centro Universitário Facinter, afirma que a Via Campesina não defende apenas a reforma agrária. "A luta de movimentos rurais tem se modificado. O discurso ambiental se tornou fundamental em diversos países, assim como a soberania alimentar e o combate à corrupção", explica.