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Os seguidores do grupo Neturei Karta creem que há uma proibição clara à criação de um Estado judeu até que o messias volte ao povo de Israel | Pixabay
Os seguidores do grupo Neturei Karta creem que há uma proibição clara à criação de um Estado judeu até que o messias volte ao povo de Israel| Foto: Pixabay

Quando o rabino Meir Hirsch, 63, fala sobre o país em que vive, sinaliza aspas invisíveis com as mãos: “o Estado de Israel”. Um ultraortodoxo no extremo do espectro, ele não reconhece a fundação dessa nação em 1948. Segundo a sua crença, o verdadeiro Estado só virá com a chegada do messias.

Hirsch é o líder do movimento Neturei Karta, criado em 1938 para se opor ao projeto sionista de erguer um país no que era então o território otomano da Palestina. Ele organiza protestos e campanhas internacionais para pedir que Israel —que celebra 70 anos nesta quarta-feira (18) à noite, segundo o calendário judaico— desapareça.

O rabino recebeu a equipe de reportagem do jornal Folha de S. Paulo em sua casa no bairro ultraortodoxo de Mea Shearim (mil portões, em hebraico). É um dos redutos mais religiosos de Jerusalém, onde vivem comunidades herméticas de israelenses que seguem à risca as regras da tradição judaica. Aos sábados, seu dia sagrado, as ruas são bloqueadas aos carros.

O ultraortodoxos vivem relativamente à margem da sociedade israelense, isentos, por exemplo, de cumprir o serviço militar obrigatório de três anos aos homens e de dois às mulheres. Mas seus partidos políticos, como o Shas e o Agudat Israel, participam do Parlamento.

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Mas Hirsch é um morador incomum de Mea Shearim. Há um adesivo em sua porta que diz “sou judeu, mas não sionista”. No canto da sala, está encostada uma bandeira palestina.

“A ONU decidiu dar um Estado aos judeus como uma compensação depois que a Alemanha matou seis milhões de nós no Holocausto”, afirma. “Mas os palestinos foram expulsos daqui. Como eles puderam pagar a dívida de um povo usando a conta de outro?”

O Neturei Karta é um ramo reduzido do judaísmo, com 10 mil famílias em um universo de 6,5 milhões de judeus no país. Mas sua atividade política, como a queima de bandeiras israelenses em público, causa ruído e não raras vezes indignação.

Moshe Hirsch, pai de Meir, trabalhou como assessor de Assuntos Judaicos no governo do líder palestino Yasser Arafat, morto em 2004. Um membro do grupo foi acusado de espionar para o Irã, mas eles negam.

Do ponto de vista religioso, os seguidores creem que há uma proibição clara à criação de um Estado judeu até que o messias volte ao povo de Israel.

O Neturei Karta foi contra o estabelecimento do país em 1948 também por acreditar que um Estado secular prejudicaria os judeus. O “Estado” —Hirsch volta a fazer aspas com as mãos— fez com que os judeus deixassem de seguir suas tradições. “Hoje os israelenses são um povo sem cultura judaica.”

Há ainda razões morais para não reconhecer o país, diz o rabino. “Como é que nós, que morremos aos milhões no Holocausto, viemos para esta terra para matar outro povo? É um absurdo.”

Hirsch também não acredita que ter um Estado judaico e outro árabe seja uma saída justa ou factível. “Até que os palestinos tenham toda a terra para eles, será apenas ‘tipo uma paz’.”

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