O tiroteio na sinagoga Tree of Life, em Pittsburgh, exemplifica uma forma cada vez mais letal de terrorismo doméstico cometido por radicais de extrema direita: o ataque a instituições e indivíduos devido à sua filiação religiosa.
Infelizmente, não é novidade para os radicias de extrema direita difamar as religiões não-brancas, não-anglo-saxãs e não-protestantes. O judaísmo sofreu a maior parte dessa raiva ideológica e paranoia conspiratória. Por mais de um século, ideólogos radicais de extrema-direita têm propagado teorias de conspiração anti-semitas e racistas. O dogma deles alega, falsamente, que os judeus globalistas se infiltraram no governo e em outras instituições dos EUA, e que judeus e não-brancos representam uma ameaça existencial à raça branca.
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Alguns membros mais militantes da extrema-direita têm agido com base nessas crenças, atacando o povo e as instituições judaicas. O objetivo final para muitos, de acordo com as informações que coletamos sobre os motivos dos agressores, é iniciar uma guerra racial na qual os brancos anglo-saxões sairão vitoriosos de tal forma que eles poderão reivindicar poder sobre o sistema político e as instituições sociais dos EUA.
Padrões de animosidade religiosa
Desde 2006, o Banco de Dados de Crimes Extremistas dos EUA (ECDB) tem sido uma fonte confiável de informações sobre os homicídios de extrema-direita. Nós e outros pesquisadores do terrorismo usamos esse banco de dados para entender a natureza dos crimes extremistas violentos e não-violentos nos EUA.
De 1990 até o presente, os radicais de extrema direita cometeram 217 homicídios por motivos ideológicos. Destes homicídios, 19 tiveram como alvo instituições religiosas e indivíduos que eram associados a alguma religião em particular. Onze foram motivados pelo anti-semitismo, especificamente.
Mais de três quartos desses homicídios tiveram apenas uma vítima; no entanto, muitos eventos tiveram várias fatalidades. Devido a isso, o número total de vítimas de homicídio com motivo ideológico foi de 490, incluindo os 168 assassinados no atentado de Oklahoma City. Dessas vítimas, mais de 50 foram assassinadas porque os agressores visavam uma instituição ou indivíduo com base na afiliação religiosa, real ou percebida.
Embora as minorias religiosas sejam assassinadas com menos frequência do que as minorias raciais e outras minorias sociais, um número crescente de ataques letais por extremistas tem atraído mais atenção a essa forma de violência.
Incluindo os 11 mortos na sinagoga Tree of Life, outros exemplos de ataques em instituições religiosas incluem o assassinato de sete pessoas em uma igreja batista no Texas em 1999; dois mortos em uma igreja unitarista no Tennessee em 2008; seis mortos em um templo sikh em Wisconsin em 2012; e nove mortos em uma igreja Episcopal Metodista Africana na Carolina do Sul em 2015. Tais ataques nos levam a questionar se extremistas violentos podem estar se focando mais em alvos religiosos.
Além disso, houve cerca de 100 atentados fracassados contra instituições ou indivíduos judeus entre 1990 e 2014. Esses casos de tentativas de assassinato raramente recebem a mesma atenção que os assassinatos bem-sucedidos. Entretanto, o fato de que atentados fracassados são nove vezes mais prevalentes do que assassinatos com motivação similar neste intervalo de tempo é motivo de preocupação.
As consequências da violência contra minorias religiosas
Para as comunidades de minorias religiosas, crimes de ódio como vandalismo e intimidação são muito comuns nos EUA. Relatórios recentes revelam aumento de crimes de ódio contra judeus e muçulmanos.
Além disso, os dados do ECDB sobre homicídios motivados pelo antissemitismo apontam uma tendência preocupante. Extremistas de direita estão se envolvendo em ataques mais mortais dentro dos locais mais sagrados: os templos de adoração. Não há indicação de que radicais de extrema direita deixarão de propagar conspirações antissemitas. E também é provável que alguns interpretem essas mensagens distorcidas como permissão para matar as minorias religiosas. Como no passado, alguns podem até perceber o que fazem como um chamado divino ou dever sagrado.
O trauma resultante desses ataques terá efeitos psicológicos severos e duradouros sobre as vítimas, suas famílias e a comunidade judaica em geral. Desta forma, os crimes contra as minorias religiosas e outros grupos protegidos diferem de crimes paralelos e rasgam mais profundamente o tecido social dos EUA.
Nós, como sociedade, podemos não saber o que exatamente leva uma pessoa a agir de forma tão violenta em suas crenças e outra a não agir. Mas acreditamos que o combate a narrativas desagregadoras com diferentes pontos de vista informados por evidências sobre o que funciona para evitar a radicalização é mais produtivo do que agravar as feridas com retórica politizada.
Como americanos, devemos falar abertamente sobre os perigos da supremacia branca, do anti-semitismo e da desumanização, tanto retórica quanto real, daqueles que percebemos como diferentes de nós. Aqueles que exercem poder político e influência precisam condenar pública e claramente os atos de violência por radicias da extrema direita e as ideologias que sustentam essa forma de terrorismo doméstico.
Jeff Gruenewald é professor associado de Assuntos Públicos e Ambientais da Universidade de Indiana, Universidade Purdue de Indianapolis. William Parkin é professor associado de Justiça Criminal na Universidade de Seattle.
O Dr. Steve Chermak, da Michigan State University, e o Dr. Joshua D. Freilich, da Faculdade John Jay de Justiça Criminal, contribuíram para essa pesquisa.
©2018 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês