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A nova rusga do Clarín com o governo de Cristina Kirchner, na Argentina, teve desdobramento nesta terça (3). A promotora responsável por investigar a morte de Alberto Nisman, Viviana Fein, voltou atrás e confirmou que foram encontrados rascunhos na casa do promotor e que, nestes rascunhos, havia um pedido de prisão da presidente Cristina Kirchner, seu chanceler Héctor Timerman e outros envolvidos.

Nisman acusava o governo Kirchner de encobrir supostos culpados iranianos do atentando à Amia (associação judaica), em 1994. Ele foi encontrado morto em seu apartamento na noite do dia 18 de janeiro.

A informação de que Nisman havia pensado em pedir a prisão da presidente foi divulgada pelo jornal "Clarín" na sua edição deste domingo (1º). Na segunda (2), o chefe de gabinete da Casa Rosada, Jorge Capitanich, rasgou as páginas do "Clarín" durante entrevista coletiva que concede diariamente e que é transmitida pela TV.

Capitanich acusou o jornal de mentir e usou como argumento a nota do juiz responsável pelo caso, Ariel Lijo, de que a denúncia que chegou à Justiça não pedia a prisão de nenhum dos acusados. Outra nota, divulgada pela assessoria da fiscal Viviana Fein, negava a existência desses rascunhos, o que reforçava a crítica do governo.

Nesta terça (3), porém, Fein disse que os rascunhos existem e que fazem parte dos documentos analisados na investigação. Em entrevista a uma rádio argentina, disse que a nota divulgada nesta segunda (2) tinha um "erro de interpretação" da assessoria de imprensa.

Ela disse que ditou a resposta por telefone e que foi mal interpretada. Fein negou que tenha havido intenção, da comunicação do Ministério Público, de alterar sua resposta e também negou que tenha sofrido pressão do governo para que desmentisse a reportagem do "Clarín".

"Eram rascunhos que efetivamente têm a ver com a denúncia de Nisman, como anteciparam os jornais, com pedido de detenção da senhora presidente. Rascunhos que não foram incorporados à denúncia apresentada ao juiz Lijo", disse Fein.

Na sua edição desta terça (3), o "Clarín" exibe as reproduções dos rascunhos. Segundo a reportagem, há anotações com a letra de Nisman. O jornal afirma que os pedidos de prisão não chegaram à Justiça, mas indicam que Nisman teria provas contundentes contra Cristina Kirchner e o governo.

Segundo o "Clarín", o rascunho é datado de junho de 2014, o que mostra que Nisman não trabalhou apressadamente, como sugeriu o governo ao tentar desqualificar a denúncia do promotor.

Pouco depois de Viviana Fein reconhecer o erro, Capitanich começou sua entrevista coletiva diária. O chefe de gabinete não reconheceu o erro e voltou a classificar de "lixo" a reportagem do "Clarín" e a atacar o grupo, que considera opositor. "Não confundam liberdade de empresa com liberdade de expressão".

Para Capitanich, a reportagem faz parte de "operações da imprensa grosseiras e sistemáticas, que são lixo permanente". O jornalista do "Clarín" Nicolás Wiñaski, autor da reportagem polêmica, estava na coletiva e tentou fazer perguntas a Capitanich, que se recusou a respondê-lo.

Em texto publicado em primeira pessoa no site do jornal, ele afirmou que o chefe de gabinete evitou olhar em seus olhos e que Capitanich "briga com a realidade". "Não queria que o chefe de gabinete me pedisse desculpas, só queria ver como sairia do labirinto em que ele próprio entrou há 24 horas", disse.

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