É uma manhã quente de sábado e a multidão está agitada na Nooo! Que Barato!, a loja de descontos em que muitos cubanos-americanos compram produtos baratos para enviar para os parentes na ilha. Mas, ultimamente, os clientes da loja estão exibindo um comportamento e gosto mais exigentes.
Sim, o pacote de seis sutiãs por US$ 5,99 ainda é popular. E as camisetas masculinas justas, para os ‘descarados’ – “apenas US$ 5,99!!” – ainda são quentes. Mas à medida que a porta até então selada entre Cuba e Estados Unidos começa a ter rachaduras, cubanos passam a pedir insistentemente não apenas por roupas ou remédios, mas pelo iPhone 6 e óculos Ray-Ban e tênis da Nike. Mais que isso, eles querem dinheiro para os planos de telefonia celular, para surfar na internet e procurar por coisas ainda mais extravagantes para pedir aos parentes nos Estados Unidos.
“Minutos, minutos, minutos – é isso que todo cubano quer”, diz o secretário Yoacnee Pereda, de 31 anos, observando a multidão no balcão da Cubacel. “Depois de 50 anos vivendo na escuridão, a luz se acendeu. Para eles, é como o paraíso”.
Há muito tempo os cubanos precisam do apoio dos parentes no exterior para suprir a escassez de produtos que assola a isolada ilha. A quantidade de remessas enviadas para Cuba é estimada em mais de US$ 2,5 bilhões anuais, muitas enviadas pelos mais de um milhão de cubanos que vivem na grande Miami. Agora, como muitos turistas Americanos chegam à ilha carregando os últimos apetrechos tecnológicos e o acesso à internet cresceu e revelou uma quantidade de bens materiais inimagináveis, alguns Cubanos estão desenvolvendo um gosto por luxos.
No topo da lista de desejos também estão os celulares. Mas não qualquer aparelho. Tem de ser um iPhone 6. E reserve o próximo aparelho que a Apple produzir. Computadores e tablets também são demandados. E sobre aqueles pacotes de sutiãs: eles não poderiam mandar alguns da Victoria’s Secret, por favor? Quanto aos homens, eles gostariam de algumas daquelas pílulas azuis.
“Viagra – é isso que eles querem”, conta Luis Nieves, de 66 anos, que deixou Cuba em 1999. “Alguns caras da minha cidade me chamaram e falaram, ‘hey, você pode nos arrumar um pouco disso [viagra]?’ Eu disse a eles que eu não uso. E se eu não uso, eu não envio”.
Muitos cubanos ainda carecem de alguns itens necessários, apesar do restabelecimento das relações com os Estados Unidos, do crescimento de pequenos negócios e do grande fluxo de dinheiro. As prateleiras em muitas lojas estão quase vazias. A média salarial mensal, para aqueles sortudos que têm um emprego, é de menos de US$ 25.
Ao mesmo tempo, a flexibilização do acesso da internet abriu uma grande janela para o mundo – e muitos moradores da ilha querem consumir mais do que podem. E não são apenas os itens mais sofisticados que eles querem, como alguns veem a situação, mas também é a conexão com a vida moderna que essas coisas representam.
“Muitos cubanos hoje podem não ter alimentos para comer, mas eles colocam US$ 5 de crédito em seus celulares. Isso tudo é sobre estar conectado ao mundo, e a ilusão de parecer bem e ter luxos. Se você tem esse tipo de coisa, então você não está mais tão isolado e preso em uma ilha”, explica Elizabeth Hernandez, que enviar uma gama de produtos para os seus parentes em Cuba.
Desde que a normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos foi anunciada, no fim de 2014, a conectividade na ilha melhorou um pouco. No último ano, o governo aumentou o número de pontos de acesso para WiFi para 65 e prometeu mais 58 para esse ano, de acordo com a Freedom House, uma ONG que trabalha pelos direitos humanos e democracia. O uso dos celulares entre os 11 milhões de cidadãos de Cuba também cresceu de cerca de 2,5 milhões de assinaturas em 2014 para 3,4 milhões em 2015, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações, uma agência da ONU.
Esse crescente apetite por mercadorias boas pode dificultar a missão dos irmãos Castro para preservar o mantra comunista da igualdade – e as restrições desse tipo de regime.
“Os cubanos querem imitar os seus vizinhos que estão na porta seguinte, e não são os canadenses ou alemães”, diz John S. Kavulich, presidente da Câmara e Conselho de Comércio dos Estados Unidos e Cuba, e há muito observador da ilha. “Tudo isso está criando uma classe média que é precisamente aquela que a revolução foi projetada para eliminar e que proporciona um tremendo desafio político para o governo cubano”.
Outros sugerem que esse grande fluxo de mercadores não vai determinar a queda do regime, mas vai preservá-lo ao apaziguar os cubanos com bens de consumo enquanto as violações de direitos humanos permanecem incontestadas.
Daniela Rovira, uma agende de viagem de 26 anos que mora em Miami – e cuja mão vive em Havana – não está entre os que têm essa preocupação. O consumo de itens de luxo só pode ser bom para os cubanos, ela diz, “porque eles não têm nada. Por que eles não podem ter as roupas e sapatos que outras pessoas têm?”
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