O mundo se surpreendeu nesta sexta-feira (9) com a escolha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para o Prêmio Nobel da Paz de 2009. Diversos jornais e agências de notícias internacionais destacam na capa de seus sites a decisão do comitê, especialmente porque o prazo limite para a nomeação terminou em 1º de fevereiro, menos de duas semanas depois da posse de Obama, e porque a premiação ocorre num momento em que os EUA ainda mantêm soldados no Iraque e avaliam o envio de mais tropas para o Afeganistão.
Ao anunciar o prêmio, o presidente do Comitê do Prêmio Nobel, Thorbjoern Jagland, disse que Obama foi premiado "pelos seus extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos".
Jagland se defendeu das críticas durante uma coletiva de imprensa após o anúncio do prêmio. "Se vocês olharem para a história do Nobel da Paz verão que em muitas ocasiões concedemos o prêmio para tentar estimular o que muitas personalidades estavam tentando fazer", afirmou.
O presidente também citou o chanceler da Alemanha Ocidental, Willy Brant, agraciado com o prêmio em 1971 pela Ostpolitik - termo usado para descrever seus esforços para normalizar as relações com o leste europeu - como exemplo, bem como Mikhail Gorbachev, o último líder soviético que foi laureado com o Nobel de Paz em 1990, antes do fim da Guerra Fria.
Dúvidas na mídia
Gideon Rachman, colunista de relações exteriores do "Financial Times", criticou que, "embora seja correto dar prêmios a crianças nas escolas por 'esforço', acredito que políticos internacionais provavelmente deveriam ser avaliados por padrões mais elevados". Além disso, escreve o colunista no site do jornal britânico, "é difícil apontar um único lugar onde os esforços de Obama realmente trouxeram paz - Gaza, Irã, Sri Lanka?".
O vice-editor do "Wall Street Journal", Iain Martin, em comentário online, também ironizou o prêmio por "esforços". "Pense nisso, é tão pós-moderno: um líder agora pode ganhar o prêmio da paz por dizer que espera trazer a paz em algum momento no futuro. Ele não precisa realmente fazer isso, só precisa ter aspirações. É brilhante."
Em resposta a perguntas de jornalistas em Oslo, o presidente do Comitê do Prêmio Nobel, disse que o prêmio não foi dado "pelo que pode acontecer no futuro". "Estamos premiando Obama pelo que ele fez no último ano", afirmou Jagland. O comitê do Prêmio Nobel apontou "a importância especial da visão e do trabalho de Obama para um mundo sem armas nucleares" e disse que ele criou um "novo ambiente na política internacional".
Esforços sem efeito
Jornais e agências de notícias nos EUA e na Europa, porém, observam que diversos esforços de Obama ainda não surtiram efeito, o que sugere que o prêmio pode ter sido "prematuro". O "New York Times" lembra que a Coreia do Norte desafiou o presidente dos EUA com seus testes de mísseis, mas pondera que o Irã recentemente concordou em retomar as negociações nucleares.
O site do jornal britânico "The Independent" traz na página principal um artigo da agência Associated Press que lembra que ainda é preciso ver resultados no fortalecimento do papel dos EUA no combate a mudanças climáticas - o Congresso dos EUA ainda não aprovou a lei que reduz a emissão de carbonos - e na redução dos conflitos com muçulmanos.
O "Chicago Tribune", da cidade onde a família Obama residia até a mudança para a Casa Branca, destaca em seu artigo de capa que, "ironicamente", o prêmio vem no momento em que Obama avalia a recomendação do comandante militar dos EUA no Afeganistão de enviar dezenas de milhares de tropas adicionais para uma guerra que já dura oito anos. Além disso, afirma o jornal, o presidente ainda está no processo de retirar as tropas do Iraque, que só deve terminar em 2011.
"Tão rapidamente? Muito cedo. Ele ainda não tem contribuições. Ele ainda está em uma fase inicial. Ele ainda está começando a agir", disse o ex-presidente da Polônia Lech Walesa, Prêmio Nobel da Paz em 1983, à agência AP. "Isso provavelmente é um encorajamento para ele agir. Vamos ver se ele persevera. Vamos dar a ele tempo para agir.