Roma - Quatro membros do governo da Itália ligados ao presidente da Câmara dos Deputados, Gianfranco Fini, o ex-aliado e hoje rival do premier Silvio Berlusconi, renunciaram ontem, desatando uma crise que ameaça a atual coalizão do líder conservador.
"Todos concordamos que precisamos começar nova fase na centro-direita italiana, disse Adolfo Urso, que ocupava o cargo de vice-ministro do Interior. Completam ainda o grupo de desertores a ministra dos Assuntos Europeus e dois subsecretários.
"Com a saída dos aliados de Fini do governo, a traição começou, disse o ministro do Bem-Estar, Maurizio Sacconi, partidário do premier.
O racha na coalizão de Berlusconi teve início no final de julho, quando um desentendimento entre o premier e Fini levou este a criar um bloco de dissidentes no Parlamento.
A dissidência, que tem mais de 30 deputados e pelo menos dez senadores, ameaça a maioria da coalizão governista no Parlamento, onde Berlusconi deverá enfrentar voto de confiança em meados do próximo mês.
Se perder em ao menos uma das Casas, o premier é obrigado a renunciar, abrindo a possibilidade de convocação de novas eleições parlamentares, que seriam realizadas no segundo trimestre de 2011, dois anos antes do final do mandato do premier.
Berlusconi diz que uma eventual queda do seu governo seria uma traição aos eleitores, que lhe deram a vitória nas eleições de 2008, e que tem certeza de vitória no caso de concorrer em novo pleito.
Impopularidade
Enfrentando crise econômica, série de acusações de corrupção contra membros do governo e vários escândalos sexuais nos últimos dois anos, o premier italiano tem atualmente a mais baixa taxa de aprovação desde 2008.
O semanário LEspresso trouxe, na capa da edição do fim de semana, uma foto da estátua do "imperador romano Berlusconi" que desmorona, resumindo em uma imagem a sensação que muitos observadores, cientistas políticos e editorialistas descrevem como "o desmoronamento geral".
"Berlusconi está com as horas contadas. Em pouco tempo a Itália se livrará de um câncer que tem destruído a economia nacional, desonrado as instituições e manchado os valores morais", disparou Leoluca Orlando, do movimento anticorrupção "Itália dos Valores".
O presidente Giorgio Napolitano deve se reunir hoje com Fini e com o presidente do Senado, Renato Schifani, para discutir o complicado cronograma parlamentar.
A crise política ocorre num momento particularmente delicado na zona do euro, em que as preocupações envolvendo a Irlanda ameaçam contagiar outros países. A Itália, com uma dívida pública equivalente a quase 120 por cento do seu PIB, até agora tem evitado turbulências econômicas como as da Irlanda ou da Grécia, mas políticos de todos os matizes estão cientes dos riscos de um prolongado impasse político para os mercados.