Oposição
General desertor pede união ao país para novo governo
O general sírio Manaf Tlass, que desertou no início de julho e aderiu à oposição, pediu ontem que os sírios se unam e vislumbrem um país pós-revolucionário.
Em sua primeira entrevista após a deserção, Tlass confirmou sua deserção do regime de Bashar Assad.
"Falo a vocês como um membro desertor do Exército sírio, que recusa a violência.
Falo a vocês como um dos filhos da Síria, afirmou o militar à rede de televisão árabe Al Arabiya, provavelmente de Paris, para onde foi após a deserção.
Ele disse que "diversos oficiais militares" não aceitam os atos do regime de Assad e pediu para continuar servindo às Forças Armadas após a saída do ditador.
"Nós precisamos nos unir para servir à Síria e promover estabilidade no país."
O arsenal
A Síria é um dos países que se recusaram a assinar a Convenção sobre Armas Químicas
O argumento: Embora seja favorável ao banimento das armas de destruição em massa do Oriente Médio, o governo sírio diz que não pode renunciar unilateralmente às armas químicas enquanto Israel continuar a ser uma ameaça à segurança do país.
A origem: O Egito foi responsável por dar à Síria a capacidade inicial de ter armas químicas. Isso ocorreu antes da guerra de ambos contra Israel de 1973, embora os sírios já estivessem trabalhando nesse arsenal em 1971. Segundo a Global Security, o país tem hoje quatro centros onde se crê que essas armas são produzidas, próximo às cidades de Damasco, Homs, Hama e Latakia.
Os agentes: A Síria aparentemente tem capacidade para desenvolver e produzir três tipos de armas químicas = gás mostarda, sarin e o poderoso agente nervoso VX. Os volumes de cada um mantidos pela Síria são desconhecidos, mas, segundo a Nuclear Threat Initiative (NIT), o país tem o maior arsenal químico do Oriente Médio e, segundo a CIA, capacidade de produzir centenas de toneladas por ano.
A aplicação: Para fazer uso dessas armas, a Síria dispõe, entre outras ferramentas, de milhares de bombas aéreas com sarin, entre 50 a 100 ogivas para mísseis balísticos, mísseis norte-coreanos de até 600 km de alcance, mísseis SS-21 de alcance de 80 a 100 km, aviões Su-24, de longo alcance, e MiG 23BM Flogger F, de ataque ao solo.
Os rebeldes sírios acusaram ontem o regime do ditador Bashar Assad de ter transferido armas químicas aos aeroportos fronteiriços, um dia depois de Damasco ameaçar utilizar estas armas em caso "de agressão estrangeira".
"Nós, no comando conjunto do Exército Sírio Livre (ESL), sabemos perfeitamente o local onde se encontram estas armas e sua localização, e revelamos que Assad levou algumas destas armas e equipamentos para misturar compostos químicos em direção a aeroportos na fronteira", afirmou o ESL em um comunicado.
Na segunda-feira, o regime sírio reconheceu pela primeira vez que possui armas químicas e ameaçou utilizá-las em caso de intervenção militar ocidental, mas jamais contra sua população, desencadeando imediatamente advertências da comunidade internacional.
O porta-voz do Pentágono, George Little, respondeu, afirmando que "as forças do governo sírio não devem sequer pensar por um segundo em usar armas químicas" e descreveu essa possibilidade como "inaceitável".
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou que a comunidade internacional continuará seguindo com atenção a situação na Síria para prevenir contra uso de armas químicas.
Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, alertou o regime de Assad de que cometerá um "erro trágico" e deverá "prestar contas" caso decida utilizar armas químicas.
Ataques
O regime sírio usou ontem sua força aérea para tentar conter o avanço das forças rebeldes em Aleppo, a maior cidade e o principal centro financeiro do país. Segundo um repórter da BBC que está na região, além de helicópteros, aviões de caça participaram da ofensiva.
A cidade é considerada de grande importância estratégica, pela atividade econômica e por ser a capital do norte, onde os rebeldes conquistaram várias porções de território até a Turquia, incluindo postos de fronteira.
Depois de ter levado os combates ao centro de Damasco, matando quatro membros do alto escalão do regime numa explosão na última semana, os insurgentes foram forçados a recuar na capital.
A ofensiva rebelde passou a se concentrar em Aleppo, com combates que chegaram ontem até as portas da antiga cidade murada, classificada pela Unesco como um patrimônio da humanidade.
Estados Unidos vão intensificar apoio a rebeldes, diz Hillary
Agência Estado
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse ontem que Washington vai trabalhar em estreita colaboração com a oposição síria, a fim de forçar o presidente Bashar Assad a deixar o poder.
Após fracassarem em obter uma resolução no Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU), por causa do veto de Rússia e China, os Estados Unidos estão trabalhando por fora do Conselho para enviar "uma clara mensagem de apoio à oposição", disse ela.
"Acreditamos que não é tarde demais para que o regime de Assad comece a pensar no planejamento de uma transição, em busca de uma maneira de encerrar a violência e iniciar discussões sérias, o que até agora não fez", afirmou Hillary.
Já a Rússia, antiga aliada da Síria, informou que uma flotilha russa com destino ao porto sírio de Tartus entrou no Mediterrâneo.
As embarcações vão desenvolver "manobras militares planejadas", informou o Ministério da Defesa russo. No início do mês, uma fonte militar disse que os navios carregariam combustível, água e alimentos. A Rússia negou que o novo posicionamento esteja ligado à escalada da violência na Síria.
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