Um ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT), o órgão político dos rebeldes líbios, disse ontem que forças oposicionistas tinham cercado uma área em Trípoli onde Muamar Kadafi e seus aliados mais próximos estavam escondidos, e que a presença do ditador estava sendo monitorada antes de uma tentativa de captura.
"A área onde ele está agora está sob cerco", disse o ministro da Justiça, Mohammed al Alagi. "Os rebeldes estão monitorando a área e estão cuidando disso."
Alagi, um advogado que disse ter ido para Trípoli para estabelecer uma nova "autoridade legal", recusou-se a especificar onde Kadafi estaria.
Anteriormente, outros dirigentes rebeldes disseram acreditar que Kadafi poderia estar refugiado na região de Abu Salim, no sul da capital uma área onde foram registrados conflitos nos últimos dias.
O cerco à região onde Kadafi supostamente estaria escondido chega horas após aviões britânicos terem bombardeado um bunker na cidade de Sirte, reduto do regime e cidade natal do ditador, anunciou hoje o ministério da Defesa líbio.
"À meia-noite, uma formação de Tornados GR4s, que partiu da base da Royal Air Force (RAF) de Marham, em Norfolk, leste da Inglaterra, disparou uma salva de mísseis guiados de precisão Storm Shadow contra um bunker de um grande quartel-general na cidade natal de Gaddafi, Sirte", afirma um comunicado.
A tevê estatal líbia, Al Jamariya, anunciou na quinta-feira em sua página no Facebook que a Otan estava bombardeando Sirte, onde, segundo os rebeldes, Kadafi poderia estar escondido. Os rebeldes planejavam ontem um novo avanço contra as forças pró-Kadafi na cidade.
Também ontem, o presidente CNT, Mustafa Abdul Jalil, disse que Kadafi deve ser processado primeiro em seu país pelos crimes cometidos durante seus 42 anos de governo e que "só depois" poderá ser entregue ao Tribunal Penal Internacional de Haia.
Jalil fez essas declarações em entrevista publicada ontem pelo jornal italiano "La Stampa", na qual reconheceu a dificuldade do assunto.
"Acho que nossos tribunais devem processá-lo por todos os crimes cometidos nesses 42 anos. E só depois, Kadafi poderá ser entregue ao Tribunal de Haia", ressaltou.
Perdão
A parcela da população líbia que apoia a queda de Kadafi não deve, em hipótese alguma, se vingar dos simpatizantes do ditador caso os rebeldes se instalem no poder. O chamado à conciliação nacional foi o tema da pregação de sexta-feira, dia sagrado aos muçulmanos, na mesquita Moulay Mohamed, uma das principais de Trípoli.
Embora seja um feroz opositor do regime, o xeque [líder religioso] Mohamed Bengheit argumentou, na oração das 13 horas, que muçulmanos precisam saber perdoar.
"Nunca façam justiça com as próprias mãos. Sigam o exemplo do profeta Maomé e, independentemente do que vocês tiverem sofrido, sejam pacientes", pediu Bengheit.