Violência no Congo gera catástrofe humanitária, diz ONU
A escalada de violência no leste da República Democrática do Congo está gerando uma catástrofe humanitária que pode ter graves consequências para toda a região, disse na quarta-feira o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.
Em nota lida por sua porta-voz Marie Okabe, Ban disse que "a intensificação e expansão do conflito está criando uma crise humanitária de dimensões catastróficas e ameaça conseqüências sombrias numa escala regional".
Ban pediu no texto que "todas as partes cessem imediatamente as hostilidades e respeitem o direito humanitário internacional".
"Ele deplora o uso de civis como escudos humanos e seu ataque deliberado pelos beligerantes", acrescentou Okabe.
Rebeldes leais ao general renegado Laurent Nkunda avançaram recentemente sobre a cidade de Goma (leste do Congo), dispersando civis e soldados e ameaçando dominar os 17 mil soldados da ONU, que tentam evitar o reinício da guerra total.
Milhares de civis e centenas de soldados do governo congolês entraram em Goma pelo norte. Logo depois de Ban divulgar a nota, um porta-voz de Nkunda disse que os rebeldes declararam um cessar-fogo.
Reuters
Os rebeldes congoleses avançaram até os limites da cidade de Goma nesta quarta-feira (29) e declararam um cessar-fogo, para evitar que a população entre em pânico e também para permitir que quem quiser sair deixe a cidade. Soldados do governo requisitaram e confiscaram automóveis para fugir, enquanto milhares de civis, em torrentes de miséria humana, tiveram que fugir a pé.
Dezenas de milhares de moradores já fugiram da cidade - a pé, de carro, motocicletas.
O governador de Goma, Julien Mpaluku, reconheceu que o pânico estava se espalhando pela cidade, que tinha 600 mil habitantes antes que começassem as fugas em massa nesta semana. Ele não confirmou se o exército desertou a cidade, mas afirmou que soldados da Organização das Nações Unidas (ONU) ainda estavam em Goma.
Nesta quarta-feira, o Exército do Uruguai negou que seus soldados tenham fugido da zona de conflito no Congo, apesar de jornalistas da Associated Press terem visto e filmado tropas uruguaias se afastando da frente de batalha.
O fracasso das forças de paz da ONU para deter a rebelião enfureceu os congoleses. Eles apedrejaram os caminhões, cheios de soldados uruguaios, acusando-os de não cumprir a missão de proteger a população civil.
Mas o chefe de relações públicas do Exército do Uruguai, o coronel Eduardo Sleseris, negou hoje em Montevidéu que os soldados tenham fugido.
"Não fugiram. Estão trabalhando nas posições. Não é verdade que tenham fugido", ele afirmou. O Uruguai enviou um contingente de 1,3 mil soldados ao Congo, como parte da força de paz de 17 mil soldados que as Nações Unidas mantém no país africano. Pelo menos 600 soldados uruguaios estão na região de Goma.
A Embaixada dos Estados Unidos no Congo lançou nesta quarta um alerta para que os cidadãos americanos deixem imediatamente a cidade de Goma. O líder rebelde congolês, Laurent Nkunda, ameaça tomar a cidade, apesar de uma advertência do Conselho de Segurança da ONU para que respeite o acordo de cessar-fogo assinado em janeiro.
Escalada
Mais cedo nesta quarta-feira, o exército congolês denunciou que soldados de Ruanda cruzaram a fronteira e atacaram soldados do país, elevando a tensão em meio a temores de que o conflito envolva nações vizinhas.
Milhares de refugiados chegaram nesta quarta mais cedo a Goma, no leste da República Democrática do Congo, em meio à demora provocada pelos tanques, caminhões e jipes militares que se retiravam do campo de batalha.
Entre a população em fuga estão pessoas que na terça-feira se refugiaram em um acampamento improvisado nos arredores de Goma, elevando o número de deslocados pelo conflito de 15 mil para 45 mil em apenas um dia.
O governo ruandês, liderado pela etnia tutsi, rechaçou imediatamente a acusação de que teria atacado o Exército do Congo em apoio a uma rebelião da minoria tutsi em solo congolês.
O Congo, no entanto, pediu ajuda à vizinha Angola para "defender a integridade territorial" do país, elevando os temores de que o conflito poderia extrapolar as fronteiras congolesas.
Uma guerra que afligiu o Congo entre 1997 e 2003 envolveu oito nações africanas e transformou-se numa investida sobre as riquezas minerais congolesas.
A rádio estatal angolana informou que o Congo pediu principalmente apoio político e diplomático, mas o ministro congolês de Cooperação Internacional Raymond Tshibanda pediu nesta terça à noite ao presidente angolano "uma promessa de engajamento, uma ajuda para salvar vidas, defender a integridade territorial e impor a autoridade do Estado no país".
O pedido vem à tona em um momento no qual a força de manutenção de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), composta por 17 mil homens, encontra-se no limite com o agravamento do conflito e necessita rapidamente de reforços, disse Alan Doss, enviado da entidade ao Congo.
A dificuldade encontrada pelos mantenedores de paz da ONU para conter a rebelião enfureceu a população congolesa, que esta semana atacou instalações da ONU em Goma. As informações são da Associated Press.
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