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Síria

Rebeldes sírios querem que Annan declare fracasso de plano de paz

Os rebeldes do Exército Livre da Síria querem que Kofi Annan declare oficialmente que seu plano de paz fracassou, para que possam pegar em armas e agir contra o regime do presidente Bashar al-Assad. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse que o país precisará de apoio internacional, inclusive da Rússia, para realizar uma suposta intervenção militar na Síria, um dia após a embaixadora americana na ONU, Susan Rice, insinuar que Washington poderia agir sem respaldo da ONU.

Riad al-Asaad, general que dirige as tropas rebeldes, fez o pedido a Annan depois que o coronel Qassim Saadeddine deu um ultimato de 48 horas ao regime sírio (prazo que se encerra ao meio-dia desta sexta-feira) para cumprir o cessar-fogo acordado em abril.

Entretanto, o general al-Asaad desautorizou o seu subalterno a respeito do prazo final. O coronel Qassim Saadeddine havia dito, em uma mensagem gravada em vídeo, que o governo sírio deve "implementar imediatamente o cessar-fogo, retirar suas tropas, tanques e artilharia das cidades e povoados da Síria". "Também deve permitir imediatamente a entrada de ajuda humanitária em todas as áreas afetadas e liberar os presos. O governo deve entrar em uma negociação séria com as Nações Unidas para entregar o poder aos sírios", disse o coronel Saadeddine, após os observadores da ONU revelarem a descoberta de mais 13 corpos com as mãos amarradas e marcas de tiros na cidade de Assukar, nesta quarta-feira.

A visita de Annan à Síria no início da semana, motivada pelo massacre em Houla, não se mostrou frutífera até agora, com exceção da libertação de 500 presos nesta quinta-feira. Eles foram presos sob suspeita de envolvimento nos 14 meses de revolta popular no país. A libertação acontece dois dias depois do enviado especial da ONU e da Liga Árabe pedir a Assad para soltar os detidos. De acordo com a TV estatal, os libertados "não têm sangue nas mãos".

Enquanto isso, China e Rússia, que são membros permanentes no Conselho de Segurança, mantêm a posição de rechaçar uma intervenção militar no país. O Conselho Nacional Sírio acusa a Rússia de incentivar Assad a cometer "ataques selvagens" por causa de sua negativa em endurecer as sanções ao regime sírio.

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton lembrou que a ONU e o apoio mundial tornou possível a intervenção na Líbia em 2011, que levou à morte do ditador Muamar Kadafi. Em Copenhagen, Hillary disse a estudantes que não desistiu de convencer Moscou a agir contra Assad. Sem afirmar que a intervenção militar é necessária, ela disse que uma guerra civil pode piorar a situação no país. "Muitas pessoas estão tentando adivinhar como seria uma intervenção efetiva, que não causasse mais mortes e sofrimento. Estamos pensando em tudo isso. Há todos os tipos de planejamento civil, humanitário e militar acontencendo, mas os fatores não estão apenas lá", afirmou a secretária de Estado. "Sabemos que pode ficar muito pior que isso. Os russos continuam a me dizer que eles não querem ver uma guerra civil e eu tenho dito a eles que sua política vai ajudar uma guerra civil."

Representantes árabes também aumentaram a pressão sobre a China para que Pequim use sua influência para conter a violência na Síria. O chanceler do Kuwait, Sheikh Sabah Khaled al-Sabah disse esperar que o governo chinês aumente seus esforços para conter a escalada da violência síria, durante um encontro com o chanceler chinês, Yang Jiechi.

Moncef Marzouki, presidente da Tunísia, afirmou que a inércia pode levar à uma intervenção militar estrangeira na Síria. "A China poderia ter um papel decisivo para conter o sofrimento do povo sírio e retirar a opção de intervenção militar", afirmou Marzouki.

Ban Ki-moon alerta para perigo de guerra civil

Nesta quinta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou que os massacres de civis, como o de Houla na última sexta-feira, podem empurrar a Síria para uma guerra civil. Ban citou o medo de Annan de que a situação no país esteja chegando ao seu ponto de ebulição.

"O massacre de civis como o visto no último fim de semana pode levar a Síria a uma catastrófica guerra civil, uma guerra civil da qual o país nunca se recuperará", afirmou Ban, em Istambul.

O cônsul-general da Síria na Califórnia, Hazem Chehabi, anunciou na quarta-feira que desertou do regime de Assad em protesto contra o massacre de Houla. Chehabi, que tem cidadania americana, era um dos mais altos diplomatas sírios nos Estados Unidos e é o primeiro a desertar. "Chega-se a um ponto onde seu silêncio ou sua inércia se tornam ética e moralmente inaceitáveis. O recente massacre bárbaro que ocorreu na cidade de Houla foi um ponto decisivo para mim e ficou um ponto além do qual não poderia justificar continuar em silêncio e/ou continuar em uma posição que será percebida, correta ou incorretamente, como laços com o governo sírio", afirmou Chehabi.

Bashar Jaafari, embaixador da Síria para as Nações Unidas, disse que a implementação do plano de Annan requere a vontade política de todos os que instigam a violência, fornecem armas, financiam e protegem os "terroristas", e não só a vontade do governo sírio.

Houla sofreu novos ataques nesta quinta-feira. Pelo menos um garoto morreu, após ser atingido por um atirador de elite. Grupos ativistas afirmam que soldados usaram metralhadoras e morteiros contra a cidade. O massacre em Houla na última sexta-feira resultou em uma ampla condenação internacional ao governo Assad, que nega participação no caso. De acordo com a ONU, além dos bombardeios do regime, a grande parte das vítimas sofreu com a ação dos milicianos shabiha, que invadiu casas e executou famílias inteiras.

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