Um dos poucos governos na América do Sul que não estão nas mãos da esquerda, a gestão de Guillermo Lasso no Equador sofre talvez o seu momento de maior pressão desde que o político conservador chegou à presidência (está no poder desde maio de 2021), com derrotas nas urnas, saída de aliados-chave e uma investigação no Legislativo controlado pela oposição, que no ano passado quase conseguiu seu impeachment.
No último dia 5, a população equatoriana rejeitou em referendo uma série de propostas feitas pelo governo, como permitir a extradição de equatorianos procurados por crime organizado, reduzir o número de membros da Assembleia Nacional e retirar o poder do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social (CPCCS) para nomear autoridades como o procurador-geral e o controlador.
Poucos dias depois, o então ministro de Governo, Francisco Jiménez (que havia sido um dos defensores do referendo), e o conselheiro Aparicio Caicedo renunciaram aos cargos como consequência da derrota. Jiménez afirmou que “não é fácil liderar um país onde os adversários políticos sempre estão à espreita para dar um golpe de Estado”.
Em entrevista ao site Infobae, o ex-secretário de Comunicação da presidência Leonardo Laso havia culpado Caicedo pelo revés no referendo. Ele afirmou que havia avisado o conselheiro sobre o “alto risco” de realizar a consulta no mesmo dia das eleições locais. “Uma consulta é sempre um plebiscito sobre a gestão atual e, com tão baixa aprovação, havia um grande risco do ‘não’ vencer”, destacou.
As eleições locais mencionadas por Laso representaram outra vitória para os opositores ao atual presidente equatoriano. O partido Revolução Cidadã, do ex-presidente esquerdista Rafael Correa (2007-2017), venceu as disputas pelas prefeituras de Quito e Guayaquil, as duas maiores cidades do país. Correa, que tem uma pena de oito anos de prisão expedida pela Justiça equatoriana pelo crime de suborno, recebeu asilo na Bélgica no ano passado.
Falando ao El País, a consultora política Wendy Reyes afirmou que a popularidade de Lasso está em baixa devido aos problemas nas áreas de segurança, economia e saúde. O Equador vive uma disputa de grupos criminosos que gerou grandes massacres em presídios – analistas apontam a atuação de grupos venezuelanos e colombianos na desestabilização do país.
“O que se discutiu nestas eleições é como resgatar a liderança local, na ausência de uma liderança nacional”, disse Reyes. Em levantamento recente da Fundação para a Cidadania e Desenvolvimento, nove em cada dez equatorianos disseram não ter confiança no governo nacional.
Para aumentar o desgaste, uma comissão da Assembleia Nacional que investiga supostos casos de corrupção em empresas públicas deve apresentar seu relatório até o final da semana que vem. Um dos investigados é Danilo Carrera, cunhado de Guillermo Lasso.
Gruber Zambrano, líder do governo na casa, disse que a investigação tem apenas fins políticos. “[O relatório final] já foi escrito, já foi dito que esta comissão vai apresentar um relatório negativo para o presidente. O que eles [oposição] querem é o impeachment dele e desestabilizar a democracia no país”, acusou.
Em junho de 2022, Lasso foi alvo de grandes protestos e um processo de impeachment convocado por parlamentares aliados de Correa e ligados aos movimentos indígenas não foi adiante porque faltaram apenas 12 votos. (Com informações da Agência EFE)