Nesta sexta-feira (9) foi concluída a primeira etapa do Sínodo dos Bispos sobre a familia, encontro no Vaticano que começou no último domingo e segue até 25 de outubro. Os padres sinodais, divididos em grupos, por idiomas, apresentaram um parecer a respeito da Instrumentum Laboris -- documento de trabalho da assembleia.
Nos grupos de língua espanhola e italiana, dos quais os padres brasileiros fazem parte, pediram que se reforçasse que “o único modelo de família que corresponde ao ensinamento da Igreja é formado pela união de homem e mulher”.
Além disso, os membros desses grupos ousaram nas colocações sobre ideologia de gênero e destacaram o valor da castidade e da “oblação” na formação da afetividade.
“Em relação ao contexto antropológico e cultural se mostrou necessário referir-se com maior abundância aos riscos da ideologia do gênero e sua influência negativa nos programas educativos de muitos países”, relatou o grupo italiano moderado pelo cardeal Francesco Montenegro.
Os grupos também retrataram a preocupação da Igreja em relação às famílias que emigram, ao trabalho infantil, ao tráfico humano e à atenção pastoral que deve ser dada aos casais que não podem ter filhos.
“O objetivo do Sínodo é o cuidado pastoral. Temos a doutrina, mas devemos encarná-la nas situações específicas da vida”, disse o cardeal Luis Antonio Tagle, das Filipinas, que participou da coletiva de imprensa desta sexta.
A crise da família
O grupo de língua espanhola moderado pelo cardeal Rodríguez Maradiaga, de Honduras, pediu para se destacar o desafio de uma renovação da própria Igreja, sobretudo em relação à catequese sobre a família.
“Os comentários no âmbito secular, quando a Igreja fala de família, dizem que o pensamento da Igreja é medieval, que não está em sintonia com o mundo atual, que não percebe a realidade. Quem sabe isso não tem a ver com nossa reflexão sobre família e matrimônio que tem sido monotemática? […] Como nasceu a crise? Sem dúvida, também tem a ver com o tipo de catequese que temos feito e que necessita de uma preparação mais profunda”, questiona o círculo espanhol.
Além disso, o grupo solicitou um maior cuidado com a linguagem utilizada no ensinamento da doutrina católica e reforçou a necessidade de formar melhor aqueles que pretendem se casar. “Está se rompendo a relação entre amor, sexualidade, matrimônio, família e educação dos filhos”, destaca.
Outros círculos
Os grupos franceses, ingleses e o alemão pedem uma “intervenção magisterial” capaz de promover uma maior clareza teológica e canônica sobre as questões apresentadas, solicitam que a Igreja, a partir da realidade de cada país, identifique as situações particulares de marginalização da família e que não se privilegie uma visão apenas “ocidental” ou “eurocêntrica” durante a elaboração do documento final do Sínodo.