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análise

Reforço das relações comerciais esconde pontos de tensão

A primeira visita de Dilma Rousseff a Washington como presidente do Brasil foi certamente cordial. Ela almoçou na Casa Branca na segunda-feira com o presidente Barack Obama. Os Estados Unidos disseram estar abrindo dois novos consulados no Brasil, como parte de um esforço para atrair mais turistas brasileiros dispostos a gastar. E os dois países até mesmo criaram um acordo para melhorar o comércio de cachaça, a bebida tradicional brasileira, e de uísque do Tennessee.

Mas essa amizade esconde uma sensação de que os EUA e o Brasil ainda não estão vendo, com o olho no olho, uma variedade de assuntos importantes, da diplomacia no Oriente Médio ao comércio com Cuba, bem como as ambições do Brasil de obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

"O Brasil se vê como sendo ou estando próximo de ser uma potência global. Os Estados Unidos, no entanto, veem o Brasil como um país grande, o mais importante da América Latina, mas nada próximo de ser uma potência global", diz Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Inter-Americano, uma organização de pesquisa e políticas de Washington.

Ambos os governos enfatizaram os aspectos positivos da visita de Rousseff, que aconteceu um ano após Obama visitar o Brasil. O nível das conversas diplomáticas, o compartilhamento de informações secretas de defesa militar e o comércio em geral são muito mais expansivos do que em outras partes da América Latina, como na Venezuela e no Equador, onde as relações continuam num ponto baixo.

Os EUA não têm um acordo comercial com o Brasil, embora tenham estabelecido acordos com outros 11 países da América Latina, mas o comércio com o Brasil tem prosperado, ainda assim. Em certo ponto deste ano, os EUA ultrapassaram a China como o principal mercado de exportação do Brasil, principalmente por causa do aumento das aquisições de petróleo e bens manufaturados brasileiros.

Mas esses padrões comerciais disfarçam tensões. A força do real brasileiro tem sido uma bênção para os brasileiros que compram propriedades em Miami e Nova York. Mas, ao mesmo tempo, o vigor da moeda tem limitado a competitividade de exportadores brasileiros ao fazer com que seus produtos se tornem mais caros para os mercados estrangeiros.

Obama parecia desconfiado quando Dilma expressou preocupações de que a "política de expansão monetária" dos EUA poderia impedir o crescimento de economias emergentes, como o Brasil. As políticas monetárias são responsabilidade da Reserva Federal; a Casa Branca e o Congresso lidam com as políticas fiscais.

Washington tem sido relutante em apoiar explicitamente o pedido do Brasil para ter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, mesmo após os EUA terem apoiado o pedido da Índia há dois anos.

Outras questões também pesam sobre as relações Brasil-EUA, como uma nova lei da Flórida, que ameaça as companhias que negociam com Cuba, ao fazer com que governos locais não as contratem. Essa lei poderia complicar a situação da Odebrecht, uma das maiores companhias de construção civil do Brasil, que está executando melhorias no Porto de Miami ao mesmo tempo em que constrói o Porto de Mariel, em Cuba.

Tradução: Adriano Scandolara

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