Rabat - O rei de Marrocos, Mohammed VI, anunciou ontem em discurso na tevê os principais pontos da reforma constitucional que reduzirá os seus poderes, iniciada em março como resposta aos protestos inspirados pela onda de levantes nos países árabes.
Mohammed VI também marcou para o dia 1.º de julho um referendo no qual os marroquinos dirão se aprovam ou não as propostas de mudança na Constituição, feitas por um comitê indicado pelo próprio rei há três meses.
Ativistas, porém, dizem que as mudanças na Carta não atendem à demanda por uma monarquia parlamentar, semelhante às do Reino Unido e da Espanha só fazem do rei um monarca constitucional, em vez do monarca absoluto que na prática Mohammed VI é atualmente. Entre as principais alterações estão a transferência de poderes executivos a um premiê e a escolha, por esse primeiro-ministro, de embaixadores, ministros e governadores de província, hoje ligados ao Ministério do Interior.
O premiê passará a ter também o poder de dissolver a câmara baixa do Parlamento (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira).
O rei, no entanto, manterá o controle nos campos militar e religioso. Também caberá ao monarca escolher o premiê entre os integrantes do partido que vencer o pleito parlamentar -e tanto dissolução da câmara baixa quanto escolha de governadores devem ser aprovadas por ele.
"Três meses depois de ter iniciado nosso processo de revisão, nós chegamos a uma nova Carta, democrática e constitucional", disse Mohammed VI em seu discurso televisionado.
Insatisfação
Ativistas que tiveram acesso ao esboço da proposta de mudança consideraram tímidas as medidas. "Elas não respondem à essência das nossas demandas", disse Najib Chawki, um dos participantes do Movimento 20 de Fevereiro, inspirado pelas revoltas que derrubaram os ditadores de Tunísia e Egito.
Nenhum dos protestos chegou a pedir, porém, o fim da monarquia -a família real marroquina, no poder há quase 400 anos, é a mais longeva do mundo árabe- nem atraiu as multidões que se uniram em Túnis e no Cairo pela queda de seus regimes.
Antes mesmo do discurso do rei, o 20 de Fevereiro marcou para depois de amanhã novas manifestações em Marrocos.