A eliminação do visto de saída para viajar de Cuba para o exterior anunciada nesta terça-feira (16) em Havana provocará um novo êxodo para os Estados Unidos, preveem especialistas em Cuba.
O professor Jaime Suchlicki, diretor do Instituto de Estudos Cubanos e Cubano-Americanos da Universiade de Miami, comparou a medida anunciada nesta terça-feira em Cuba, que entrará em vigor em 14 de janeiro, com o movimento em massa de cubanos que partiram do porto de Mariel para os Estados Unidos entre 15 de abril e 31 de outubro de 1980 após uma abertura feita pelo líder revolucionário Fidel Castro. "Isto é um Mariel legal e lento, mas será outro Mariel", disse Suchlicki à AFP.
Na época, mais de 125.000 cubanos fugiram da ilha por mar em direção aos Estados Unidos, onde provocaram uma crise de imigração que levou o então presidente Jimmy Carter a decretar medidas para punir todos aqueles que transportassem imigrantes.
Para o estudioso da Universidade de Miami, o motivo do anúncio feito pelo Ministério das Relações Exteriores de Cuba é "sobretudo uma questão de política interna". "Em primeiro lugar, tenta se desfazer de muitas pessoas que tem que alimentar, segundo, elimina uma enorme pressão social porque os cubanos queriam viajar e não podiam, e terceiro, desloca a atenção dos problemas econômicos porque agora as pessoas começam a se preocupar com uma forma conseguir um passaporte para ir à embaixada da Espanha obter um visto", disse Suchlicki.
Tanto o professor como a líder do Diretório Democrático Cubano, Janisset Rivero, concordaram que no dia 13 ou 14 de janeiro "haverá longas filas de cubanos em todas as embaixadas tentando conseguir vistos".
"Quantos vistos vão ser dados pelos espanhóis? Não acho que muitos com a situação econômica que estão atravessando. Quantos vistos vão dar os venezuelanos ou os mexicanos? Também não serão muitos, portanto não vão poder sair em grandes quantidades, mas vão sair de forma lenta e legal".
Para Rivero, "muitas pessoas vão tentar sair da ilha, isso é certo".
"Em Cuba existe muito descontentamento, existe muita pressão social e as pessoas vão tentar deixar o país. Acho que isto pode causar uma emigração grande", indicou a ativista, ressaltando que esta suposta flexibilização migratória "não deve causar uma mudança real, por isso não deve motivar por enquanto nenhuma mudança na política migratória por parte dos Estados Unidos".
Os Estados Unidos não pretendem mudar "em nada as leis em vigor", declarou nesta terça-feira a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland.
Washington mantém desde 1966 a chamada Lei de Ajuste, segundo a qual um cubano que pisar em território americano automaticamente pode pedir para viver no país.
Além disso, ambos os países estabeleceram acordos migratórios, teoricamente para impedir operações de saída em massa da ilha.
"Sempre pedimos que as famílias cubanas utilizem a reunião familiar legal e outros mecanismos de imigração que já estão em vigor", disse Nuland, considerando a medida de Havana uma iniciativa "coerente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma que todas as pessoas têm o direito de deixar qualquer país - incluindo o seu - e de poder voltar".
Apesar disso, Jaime Suchlicki indicou que uma eventual mudança da política migratória americana em relação a Cuba dependerá de quem ocupar a Casa Branca depois das eleições presidenciais de 6 de novembro.
"Se (Barack) Obama continuar pode ser que haja um relaxamento maior da política dos Estados Unidos, no sentido de permitir que mais cubanos entrem no país e mais (americanos) possam ir, mas com (o republicano Mitt) Romney não acho que vá haver nada disso. Ele seguiria sua linha dura na questão migratória".
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