No próximo domingo (19), serão eleitos os 90 membros da assembleia legislativa de Hong Kong, na primeira eleição para a casa desde que uma série de mudanças no processo eleitoral foi imposta por Pequim no primeiro semestre deste ano. Como consequência, a proporção da população do território que se diz disposta a ir às urnas é a menor em décadas.
Uma pesquisa divulgada no final de novembro apontou que apenas 52% dos habitantes de Hong Kong pretendem votar no próximo domingo, o menor índice desde 1991, quando o território ainda pertencia ao Reino Unido. Em resposta, o governo, que considera crime incentivar o boicote à eleição ou o voto nulo, iniciou uma campanha para estimular o comparecimento às urnas no próximo dia 19.
A eleição para a casa estava marcada para setembro de 2020, antes, portanto, da implementação das novas regras, mas foi adiada devido à pandemia.
O número de cadeiras no Legislativo aumentou de 70 para 90, mas o número de representantes eleitos diretamente vai cair de 35 para 20. Outras 40 irão para legisladores escolhidos por um comitê eleitoral, apontado como pró-Pequim e que antes podia definir apenas o chefe do Executivo de Hong Kong. Os ocupantes das 30 restantes serão eleitos por representantes de grupos de interesse econômico, como bancos e comércio, também favoráveis a Pequim.
Para aumentar o controle do regime chinês, uma comissão à parte tem o poder de analisar e vetar candidatos à assembleia legislativa, membros do comitê eleitoral ou candidatos a chefe do Executivo, o que vem sendo usado como estratégia para barrar pretendentes que não sigam a cartilha da ditadura comunista – no início do ano, o ditador Xi Jinping disse que Hong Kong só poderá manter sua estabilidade e segurança de longo prazo se garantir que “patriotas governem Hong Kong”.
As mudanças na legislação eleitoral ocorreram após a implementação da lei de segurança nacional de Hong Kong, em junho de 2020, que tem servido de base para aumentar a repressão a opositores e ativistas.
Esta foi uma resposta aos protestos pró-democracia ocorridos entre 2019 e 2020. Outra motivação para a China impor as mudanças eleitorais foi a derrota de candidatos pró-Pequim na eleição para os conselhos distritais de Hong Kong, em 2019.
Em editorial, o Wall Street Journal classificou a eleição legislativa como uma “farsa”, que demonstra como Pequim está “esmagando a autonomia que prometeu” a Hong Kong e “tentando impor sua repressão política até mesmo no exterior”. O secretário para Assuntos Constitucionais e do Interior de Hong Kong, Erick Tsang Kwok-wai, ameaçou processar o jornal.
Nathan Law Kwun-chung, ativista exilado na Grã-Bretanha que em 2020 apareceu na lista de cem pessoas mais influentes do mundo da revista Time, recomendou em entrevista à Reuters que a população de Hong Kong “ignore” a eleição para a assembleia legislativa.
“Não devemos dar qualquer legitimidade à eleição, não devemos fingir que teremos uma eleição - será apenas uma seleção feita por Pequim”, criticou.
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