Ponta Grossa Zenaite Bazzi Jomoa, 54 anos, está sofrendo as conseqüências dos problemas de comunicação que afetam o Líbano. Brasileira, nascida em Goiânia (GO), ela não consegue provar a nacionalidade para ser incluída nos comboios que deixam o país rumo à Síria.
Zenaite foi para o Líbano aos 8 anos e a certidão de nascimento está no Brasil, onde vivem oito dos nove irmãos dela. Sem se comunicar em português e na falta de outras provas de nacionalidade, ela vai todos os dias ao Consulado-Geral do Brasil em Beirute, na esperança de receber uma cópia da certidão.
Com o marido, dois filhos e um neto, morava em Bint Jbail, a cerca de dois quilômetros da fronteira com Israel. Bastião do Hezbollah, a localidade é a mais atacada por Israel. Os mísseis e tanques fizeram a família fugir para um abrigo em Beirute.
Os contatos de Zenaite com o Brasil acontecem uma vez por dia, por celular. Ela descreve cenas de destruição e relata falta de comida e até de água, para o desespero de seus parentes.
O irmão da brasileira Farjallah Bazzi tenta há mais de uma semana que o Ministério das Relações Exteriores faça chegar a Beirute a cópia da certidão de nascimento de Zenaite. Apesar de respostas oficiais, dando conta que a documentação já foi encaminhada, o consulado nega estar com a certidão. A última negativa foi terça-feira.
"Não é possível tanta dificuldade para se provar que um cidadão brasileiro precisa de ajuda", protesta Farjallah, em Ponta Grossa, onde moram quatro irmãos de Zenaite. Outros quatro moram em Curitiba. A outra irmã, que também estava no Líbano, é casada com um australiano e já foi resgatada.
Os parentes estão ainda mais preocupados por causa do estado de saúde de Zenaite, que retirou um tumor do seio no início do ano. Dentre os familiares, ela é a única que nunca voltou ao Brasil. "Como podemos ficar tranqüilos com ela lá, nessa guerra suja e injusta, correndo o risco de se tornar apenas mais um número, mais uma vítima brasileira", desabafa Farjallah.
O Ministério das Relações Exteriores não soube informar a situação de Zenaite no Líbano, mas disse que todo brasileiro que estiver no país árabe deve fazer contato com o Consulado Brasileiro e informar sua situação. De acordo com o órgão, a pessoa é avisada sobre o local, data e horário que o comboio de refugiados deixará o país, sendo necessário apenas apresentar qualquer documentação que comprove sua nacionalidade. O Ministério frisou que é de inteira responsabilidade da pessoa estar no local e horário estabelecido. De acordo com o Itamaraty, o fato de Zenaite não falar português e estar morando no Líbano há 46 anos não impede que ela deixe o país.
A reportagem da Gazeta do Povo procurou o Consulado Brasileiro no Líbano, mas não conseguiu contato. Ontem, dos quatro celulares que o Itamatary colocou como plantão para o atendimento a brasileiros no exterior, apenas um estava funcionando. A plantonista informou que a família Bazzi deverá enviar toda a documentação novamente ao Ministério de Relações Exteriores.