Crianças são grande parte dos refugiados no campo Jalozai, na capital Islamabad, no Paquistão| Foto: Faisal Mahmood / Reuters

Com mais de 2 milhões de refugiados internos desde o ano passado, o Paquistão pode se tornar cenário da maior catástrofe humana em termos de deslocamento forçado de civis desde o genocídio de Ruanda, em 1994.

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A comparação foi feita nesta terça-feira pelo porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), Ron Redmond, em Genebra, e revela a preocupação do organismo com o destino dos milhares de civis que fogem do Vale do Swat, na fronteira com o Afeganistão, onde forças do governo e rebeldes taleban se enfrentam em combates abertos desde o dia 26.

Numa situação semelhante, ocorrida há 15 anos, em Ruanda, 2 milhões de membros da etnia tutsi abandonaram suas casas, temendo a perseguição dos rivais hutus, que eram maioria no país. A disputa entre etnias provocou a morte de pelo menos 500 mil pessoas, no que foi considerada a maior matança desde a Segunda Guerra Mundial.

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O número de refugiados no caso paquistanês chegou a 1,45 milhão na segunda-feira, segundo a ONU. No ano passado, 550 mil pessoas já haviam deixado a região. Do total, 48% são crianças. A morte de civis, entretanto, não passa das dezenas, segundo o governo.

Para a ajuda aos refugiados paquistaneses, o Acnur armou 24 campos com tendas e instalações sanitárias.

O general Nadeem Ahmed, que lidera o grupo que tem a tarefa de lidar com os refugiados paquistaneses, disse que o governo tinha farinha e outros tipos de alimentos em quantidade suficiente para os desalojados, mas que são necessárias doações de ventiladores e de biscoitos energéticos.

Ele também disse que os refugiados vão precisar de dinheiro e transporte quando houver segurança para voltarem para suas casas. Um "campo não é uma substituição para o lar", disse Ahmed.

No campo de Jalala, 11 mil civis vivem aglomerados num terreno seco e empoeirado, onde as temperaturas chegam a atingir 50°C no verão no hemisfério norte.

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O clima quente é um desafio adicional para os refugiados, provenientes de uma região montanhosa de baixas temperaturas. O desconforto só não é pior do que a insegurança enfrentada pelos civis em fuga.

O desafio humanitário ocorre no momento em que militares dizem que mais de 30 militantes e soldados morreram nas tentativas de reconquistar cidades importantes do Vale do Swat e entraram em confronto com insurgentes nas proximidades da fronteira afegã.

Os Estados Unidos elogiaram a operação militar paquistanesa no Vale do Swat e em distritos próximos. As ações são realizadas em meio a pressões norte-americanas para eliminar esconderijos da Al-Qaeda e do Taleban ao longo da fronteira com o Afeganistão.

Militantes nesses locais ameaçam as tropas dos Estados Unidos e as da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão e o próprio futuro do Paquistão, dizem oficiais norte-americanos.

Nesta terça-feira, o Exército disse que suas operações para limpar o Vale do Swat estavam "progredindo como planejado".

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As tropas se envolveram em confrontos nas cidades de Matta e Kanju e perto de uma ponte estratégica, além de combater militantes na área de Piochar, a fortaleza do chefe taleban Maulana Fazlullah no Swat, segundo um comunicado militar. Dezesseis militantes e quatro soldados foram mortos e 16 militares ficaram feridos, disse Said. Um outro comunicado da paramilitar Frontier Corps diz que os soldados mataram mais 13 militantes na região de fronteira de Mohmand. O documento diz que dentre os mortos estão três líbios e um saudita, mas não deu mais informações sobre eles.

O Paquistão diz que mais de mil militantes foram mortos desde que a ofensiva começou, no final de abril. É impossível verificar esses números porque jornalistas não podem entrar na zona de guerra. Não há informações sobre mortes de civis, mas refugiados afirmam que eles ocorreram. As informações são da Associated Press.

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