Milhares de pessoas que fugiram da fome na Somália, enfraquecidas por meses de seca no país, começaram nesta segunda-feira o período de jejum do mês muçulmano do Ramadã, em meio às tendas e choças do maior acampamento de refugiados do mundo.
"Por causa da fome, já estamos mesmo há muitos dias sem comida", disse Mohamed Dubow Saman, de 25 anos, confortando a filha, diante de um abrigo emergencial no acampamento de Dadaab, na fronteira da Somália com o Quênia.
"Aquele foi um jejum sem recompensa. Pelo menos este jejum é inspirado em Deus", afirmou. Pessoas doentes não precisam jejuar durante o mês do Ramadã, um período sagrado para os muçulmanos. Mas a maioria dos acampados, afetados pela mais severa seca nas últimas décadas na região do Chifre da África, no nordeste do continente, parecem determinados a manter as tradições.
O Ramadã ocorre numa época difícil para a população islâmica dessa parte da África. Em áreas da região, propensa a secas, é o quarto ano seguido de escassez de chuvas, dizem os camponeses. A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que todo o sul da Somália pode ser afetado pela fome. No total, mais de 12 milhões de pessoas estão sentindo os efeitos da estiagem no Chifre da África.
Em algumas partes do país militantes islâmicos que empreendem um levante para derrubar o governo estão impedindo a distribuição de alimentos.
O presidente somali, xeque Sharif Ahmed, iniciou um giro por países da região, iniciando pelo Djibouti, no fim de semana, para enfatizar a importância de entrega de ajuda primeiro no próprio país, de modo que a população da Somália não tenha que se deslocar para outros lugares.
"Não queremos que nossos compatriotas tenham de realizar duras jornadas até outros países para receber ajuda", declarou ele à Reuters.
Conferência africana
A União Africana está planejando realizar no dia 9 de agosto, na Etiópia, uma conferência de chefes de Estado da África e parceiros internacionais para arrecadar dinheiro destinado aos afetados pela seca.
"Em todo o mundo, todos têm de pôr a mão no bolso para resgatar o povo da Somália do abismo em que se encontra", disse o vice-comissário da União Africana, Erastus Mwencha, durante visita à capital da Somália, Mogadíscio, na semana passada.
Ao anoitecer no superlotado acampamento de refugiados, uma menina conduzia a família, levando um tapete com inscrições do Alcorão. Eles eram os últimos, entre milhares de refugiados, a chegar ao local, inicialmente destinado a receber 270 mil pessoas, mas agora com mais de 400 mil, na grande maioria somalis.