O regime que até a década de 1990 se declarava ateu e que já expulsou religiosos se prepara com empenho quase fervoroso para receber a visita do Papa Bento XVI a Cuba. Com uma página especial na internet sobre a viagem do Pontífice, editoriais no jornal Granma, e a concessão de folgas para que funcionários públicos acompanhem os eventos com a presença de Joseph Ratzinger, o governo quer deixar clara a mensagem de um país em transição, onde a Igreja Católica e seu maior representante são bem-vindos.
A demonstração de boa vontade do regime não é à toa. Nos últimos anos, estreitou-se o relacionamento entre o governo e a Igreja Católica. Em um país onde o Estado começa, aos poucos, a reduzir subsídios, a Igreja tem assumido cada vez mais a rede de proteção social. Nas paróquias, proliferam restaurantes populares, aulas de informática, cultura geral e até de economia. Entre os pontos que devem ser discutidos estão o maior acesso a rádios e tevê estatal, a administração de escolas e a permissão para construir novas igrejas.
Na opinião do historiador Enrique López Oliva, da Universidade de Havana, a aproximação com o Estado faz parte de uma estratégia para o futuro.
"A Igreja Católica está se preparando para um futuro sem os irmãos Castro. Ela está construindo o aparato laico, reforçando seu sistema pastoral. Hoje, a maioria dos padres cubanos foi ordenada depois da revolução. Não foram afetados diretamente pelo processo de confrontação dos anos 60 e 70, o que possibilita ao clero dialogar e entender melhor o povo", diz.