O jornalista cubano Abraham Jiménez Enoa, que escreve para veículos internacionais como Washington Post e New York Times, afirmou nesta terça-feira (30) que estava sendo impedido de sair de sua casa, em Havana, por agentes de segurança da ditadura de Cuba.
"Estou em prisão domiciliar. Vários agentes da Segurança do Estado e uma patrulha com quatro oficiais estão posicionados debaixo de minha casa para impedir que eu saia para cobrir a marcha de protesto pela morte de Hansel Hernández. O governo cubano é abusador e racista", escreveu Jiménez Enoa pelo Twitter na manhã de terça.
Em outra publicação feita uma hora depois, o jornalista diz que, além de detê-lo em seu próprio domicílio, o regime também "corta a internet de meu telefone". À noite, ele comunicou que os policiais haviam ido embora e ele pôde sair de casa.
O jornalista pretendia assistir a um protesto contra a morte de um jovem negro em abordagem policial. Hansel Ernesto Hernández Galiano, 27 anos, morreu em uma perseguição policial na quarta-feira passada (24) em um bairro da periferia da capital cubana. A família de Hansel diz que ele estava desarmado e um policial atirou nas suas costas, noticiou o Infobae.
O Ministério do Interior cubano publicou uma nota em jornais locais no sábado com a versão policial do caso, afirmando que o jovem foi surpreendido com objetos roubados em um terminal de ônibus, fugiu e agrediu com pedras um dos oficiais que o deteve.
O jornalista Jiménez Enoa escreveu sobre o caso para o Washington Post na segunda-feira (29), em uma coluna intitulada "A violência policial de Cuba também é racista". Em seu artigo, Jiménez Enoa fala sobre casos de violência policial, que se agravaram durante a pandemia, já que uma das medidas tomadas para conter a propagação do novo coronavírus foi reforçar a presença policial nas ruas. O jornalista ilustra a situação com exemplos de casos detenções arbitrárias e de abusos policiais contra pessoas negras e descreve a desigualdade racial na ilha.
Nesta terça-feira (30), um site alinhado ao regime publicou um artigo com ataques ao Washington Post e ao jornalista por sua coluna sobre a morte do jovem.
O Washington Post, em mensagem à Radio Televisión Martí, emissora com sede em Miami que transmite para Cuba, pediu que a liberdade de expressão seja respeitada no país.
"Abraham é um jornalista com uma grande trajetória e também é colunista da nossa seção Post Opinión. Exigimos que sejam garantidos a sua segurança e seu direito de exercer o jornalismo sem represálias nem intimidação", disse à emissora Eli López, editor internacional da seção Opinión do jornal americano.
O jornalista cubano foi contratado como colunista pelo Post em 15 de junho para escrever sobre temas sociais e políticos de Cuba.
Coação e detenções em toda a ilha
Ele não foi o único jornalista a ser impedido de circular em Cuba nesta terça-feira. Segundo o portal ADN Cuba, vários jornalistas independentes e ativistas não puderam sair de suas casas por causa da presença de agentes de segurança do Estado.
O portal 14yMedio informou que mais de 30 pessoas foram detidas em todo o país, em ação de policiais e forças de segurança para impedir a realização dos protestos, que estavam previstos para acontecer também em cidades do interior. Além desses, cerca de 30 artistas, ativistas e jornalistas tiveram suas casas vigiadas e foram impedidos de sair.
Durante todo o dia, ativistas denunciaram detenções e ameaças para que não participassem dos protestos, além de casos de repressão por oficiais contra quem saiu às ruas, ainda segundo o site de notícias cubanas com sede na Espanha.
A pauta antirracista e contra abusos policiais das manifestações que estavam previstas para a terça-feira em Cuba, e foram impedidas de acontecer, é a mesma dos protestos que se espalharam por várias cidades do mundo após a morte do afro-americano George Floyd em Minnesota, EUA, no mês passado.
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