Havana – A notícia sobre a recuperação de Fidel Castro adiou provisoriamente um debate inevitável sobre mudanças em Cuba. A pressão por mudanças não se limita a exilados de Miami nem é fruto exclusivo da diplomacia de guerra dos EUA, mas reflete um prolongado esgotamento do regime.

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Em 1959, quando desceu de Sierra Maestra, Fidel dizia que o ditador Fulgêncio Batista transformara Cuba num bordel sob controle da máfia americana. Meio século depois, o país possui um bordel a céu aberto, com prostitutas e prostitutos de plantão nas avenidas e esquinas de Havana. A corrupção alojou-se em diversas fatias da máquina estatal. Sem perspectiva, cubanos com diploma universitário assediam turistas que visitam o país em busca de um convite para trabalhar no estrangeiro como empregados domésticos. Num quadro de imensa dependência externa, a maior fonte de divisas de Cuba atualmente é o turismo. O petróleo de Hugo Chávez substitui os fornecimentos da antiga União Soviética. Investimentos chineses constroem parques de diversão e garantem linhas de financiamento para a compra de geladeiras e fogões. O BNDES brasileiro oferece crédito para a compra de biscoitos e outros alimentos produzidos no Brasil.

Entre intelectuais, que se definem como "revolucionários", e engenheiros que ganham a vida como feirantes, a maioria dos cubanos reconhece méritos num regime que garante a todos 12 anos de escola pública, possui índices de violência que são quase um sonho e uma saúde pública que funciona, mas consideram cada vez mais difícil aceitar o cotidiano de carência e pobreza.Expectativa"Na hora certa, viveremos um processo semelhante ao ocorrido na União Soviética", afirma uma exilada cubana de 40 anos, ex-militante da Juventude Comunista, que vive há dez anos na Espanha, e que, como tantos conterrâneos, define-se como "fidelista, mas não comunista." Tradução: admira Fidel ("não permitiu que o país ficasse de joelhos"), mas acha que ele errou ao tentar "adaptar a economia às suas idéias políticas".

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Para um veterano das aventuras militares na África, nos anos 80, "ninguém consegue progredir. As pessoas se esforçam para comprar um par de sapatos ou uma calça. A escola continua de graça, mas as famílias precisam comprar uniformes para as crianças. Às vezes, faltam livros. Preciso ir a um neurologista, mas há dois meses não consigo marcar consulta. Muitos de nossos melhores médicos nem vivem mais no país", afirma, referindo-se aos milhares de médicos cubanos enviados à Venezuela, à Bolívia e a outros países com quem Cuba mantém relações.