O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, fala durante protestos em Caracas, 12 de março. Foto: Yuri Cortez / AFP| Foto:

A Venezuela parece estar desmoronando em meio a um apagão nacional e uma crítica falta de água que pioraram as condições que já eram terríveis.

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Enquanto as tensões aumentavam na Venezuela, o procurador geral Tarek Saab anunciou que o presidente interino Juan Guaidó está sendo investigado em conexão com a suposta sabotagem do sistema elétrico nacional – que o governo diz ser responsável pelo apagão que começou na quinta-feira passada.

Guaidó já estava sob investigação por “ocorrências violentas” no país desde janeiro, quando seu movimento de oposição decolou. Ele rechaçou as novas alegações, dizendo: “Aqui estamos, mais firmes do que nunca”. Analistas disseram que duvidam que o líder da oposição popular seja detido.

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“Eles o atacarão como parte de uma estratégia para ganhar tempo, responsabilizar seus adversários [pelos problemas do país] e tentar deixar as pessoas cansadas e frustradas” com as alternativas políticas do país, disse Luis Vicente Leon, analista e pesquisador venezuelano.

Na sessão desta terça-feira da Assembleia Nacional, Guaidó, que também é presidente da Casa, disse: "O plano do regime é revelado com essa acusação. Eles tentaram confundir a opinião pública tentando dividir nossos cidadãos e, como não conseguiram, porque se mantém sólida a alternativa e a condução dos cidadãos que exigem seus direitos, agora tratam de nos judicializar com um processo de perseguição", afirmou.

O procurador geral considerou um "fato revelador" uma publicação de Guaidó em uma rede social. "Poucas horas depois de ter ocorrido este feito lamentável, como sabemos, essa sabotagem elétrica nacional jamais vista na história republicana, publicou em sua conta no Twitter: 'Está claro para a Venezuela que a luz chega com o fim da usurpação'. Isso ocorreu apenas uma ou duas horas depois de haver acontecido esse fato lamentável", disse Saab na sede do Tribunal Supremo de Justiça.

Novas manifestações

Uma nova mobilização nacional foi convocada para esta terça-feira (12) em toda a Venezuela. Manifestantes se reuniram em diversos pontos de Caracas durante a tarde para protestar contra a crise de eletricidade e de outros serviços públicos.

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O presidente interino Juan Guaidó falou a um grupo de manifestantes que quando as forças armadas estiverem alinhadas a ele, buscará um gabinete no palácio presidencial de Miraflores. "Precisamos de um gabinete para trabalhar, quando tivermos as forças armadas completamente alinhadas vamos buscar o nosso escritório lá em Miraflores", disse Guaidó, segundo a imprensa local.

Retirada dos americanos

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou em comunicado nesta terça-feira (12) que o governo dos EUA está retirando seus diplomatas devido à “deterioração da situação na Venezuela e à conclusão de que a presença de funcionários diplomáticos dos EUA na embaixada se tornou uma restrição à política norte-americana”.

Mas o regime de Maduro disse que já havia informado aos diplomatas norte-americanos na segunda-feira que estavam sendo expulsos. Em um comunicado, o Ministério do Exterior venezuelano disse estar preocupado que a Casa Branca pudesse usar a “proteção do seu pessoal diplomático” como um “pretexto” para a ação armada. A Venezuela, disse o comunicado, estava pronta para “manter canais de comunicação” se as relações fossem respeitosas.

Os temores de um colapso venezuelano ao estilo da Líbia estão crescendo, uma ameaça que trouxe de volta o espectro dos ataques de 2012 ao complexo diplomático americano em Benghazi, que resultaram na morte do embaixador Christopher Stevens e de outros três americanos.

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As milícias armadas pró-Maduro conhecidas como “colectivos” aumentaram a repressão nas últimas semanas, abrindo fogo contra civis e aterrorizando comunidades. Os venezuelanos que já sofrem com a escassez de comida e água ficaram tão desesperados durante a atual onda de apagões que começaram a saquear lojas e a coletar água nos esgotos. A eletricidade estava gradualmente sendo restaurada em partes do país nesta terça-feira. Mas o desastre humanitário deverá se intensificar nas próximas semanas, à medida que as novas sanções impostas pelos EUA começarem a repercutir na economia, levando à escassez de gasolina e a uma fome ainda maior.

Maduro disse que os apagões foram causados por sabotagem dos Estados Unidos e seus aliados na Venezuela. Mas analistas e especialistas em produção elétrica disseram a queda de energia provavelmente foi causada ​​por falta de manutenção e incapacidade de manter trabalhadores qualificados.

Analistas disseram que a saída dos diplomatas norte-americanos pode tornar mais difícil para Washington estar em contato com os líderes da oposição.

“Agora os EUA não estarão presentes, por isso sua capacidade de coletar informações diretamente e desempenhar um papel ativo na Venezuela será muito limitada”, disse Mariano de Alba, especialista em assuntos internacionais da Venezuela.

No entanto, ele disse, a retirada do pessoal da embaixada pode abrir caminho para que Washington tome medidas mais duras, sem ter que se preocupar com retaliação contra seus diplomatas. Como a Venezuela tenta desesperadamente encontrar novos mercados para o seu petróleo, o governo dos EUA está usando a ameaça de sanções para desencorajar outros países a comprar o petróleo.

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Pompeo disse em entrevista ao programa “Houston's Morning News” da rádio KTRH que a decisão reflete preocupações sobre a segurança dos diplomatas.

“A segurança deles é sempre primordial”, disse ele. “E ficou muito difícil”.

Detenções

Enquanto o país esperava o religamento dos serviços de eletricidade e água, a mídia local informou que um proeminente jornalista e âncora de rádio, Luis Carlos Diaz, havia sido preso por agentes da inteligência. Ele foi levado para o Helicoide, o infame cárcere para prisioneiros políticos, de acordo com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa.

O governo não disse imediatamente porque Diaz foi preso. Sua detenção ocorreu um dia depois de um programa de TV pró-governo divulgar um relatório alegando que ele estava envolvido no planejamento dos apagões.

“Estou profundamente preocupada com a detenção do conhecido jornalista @LuisCarlos pelos serviços de inteligência venezuelanos e com o seu bem-estar”, twittou Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para direitos humanos e ex-presidente do Chile.

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Mais de 35 jornalistas – locais e estrangeiros – foram detidos pelas forças de segurança neste ano. A maioria deles foi posteriormente liberada ou deportada.

Embora os laços entre EUA e Venezuela tenham sido tensos há anos, eles começaram a se desfazer rapidamente em janeiro, quando o governo Trump pediu que Maduro renunciasse e reconhecesse Guaidó como líder do país, citando o que chamou de eleição fraudulenta no ano passado. Mais de 50 outros países fizeram o mesmo.

Os Estados Unidos também impuseram duras sanções ao setor de petróleo da Venezuela em janeiro, cortando efetivamente a maior fonte de divisas do país.

Um acordo temporário permitiu que um pequeno número de funcionários diplomáticos permanecesse nas capitais dos dois países, enquanto Washington e Caracas procuravam estabelecer seções de interesse mais limitadas.

Esse acordo expirou segunda-feira. Espera-se que os funcionários dos EUA saiam até sexta-feira.

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Uma equipe reduzida de cerca de 20 funcionários diplomáticos – assistidos por funcionários locais – tem administrado o amplo complexo da Embaixada dos EUA em uma colina pitoresca em Caracas. Mas até administrar uma embaixada se tornou difícil na Venezuela. Hotéis, instalações diplomáticas e alguns restaurantes continuam a funcionar com geradores, mas esses exigem diesel – o que também é cada vez mais difícil de obter.