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Ricardo Vélez Rodriguez, filósofo e professor | Gilberto Abelha/Gazeta do Povo
Ricardo Vélez Rodriguez, filósofo e professor| Foto: Gilberto Abelha/Gazeta do Povo

O filósofo e professor colombiano Ricardo Vélez Rodríguez é um dos principais nomes do pensamento liberal na América Latina. Mas nem sempre foi assim. Nos anos 70, ele era militante da Aliança Nacional Popular, movimento armado de inspiração trotskista. Em 1979, deixou a Colômbia para não ser morto – 18 professores de sua universidade haviam sido assassinados – e veio para o Brasil, onde estudou com o filósofo liberal Antônio Paim. Deixou para trás a guerrilha, a revolução e o marxismo. Autor de livros como Da guerra à pacificação: a escolha colombiana (2010) e Patrimonialismo e a realidade latino-americana (2006), Vélez conhece de perto as estratégias da ideologia que hoje domina a maior parte dos governos latino-americanos e lançou a Venezuela às portas de uma guerra civil. O professor Vélez, que atualmente mora em Londrina, conversou com a Gazeta do Povo sobre a situação na Venezuela.

Como o sr. vê os recentes acontecimentos na Venezuela, como a prisão de militares e a cassação da deputada oposicionista Maria Corina Machado?

Bolívar, que conhecia de perto os países por ele liberados do jugo espanhol, dizia: "A Colômbia é uma universidade, o Equador é um convento, a Venezuela é um quartel". De todos os países libertados, a Venezuela, certamente, foi o que mais herdou a pesada carga do caudilhismo militar. Maduro é um pequeno acólito do finado coronel Chávez. A Venezuela é administrada como se administra a casa do dono do poder. Os líderes venezuelanos não gostam muito de firulas administrativas. O negócio familiar é gerido mal e porcamente. Daí a insatisfação das pessoas nas ruas e as prateleiras vazias. Mas, se a falta de tino administrativo é a regra, é também norma a brutalidade da guarda pretoriana do ditador. Daí os 37 mortos que têm sido contabilizados nas últimas semanas. O regime desmorona. A prisão dos três generais entra dentro dessa tentativa de exorcizar os fantasmas que rondam os déspotas. A destituição, pelo presidente de Assembleia Nacional chavista, da corajosa deputada que foi à OEA denunciar as brutalidades do regime, revela duas coisas: o organismo panamericano deixou de ser representativo, virou apêndice do bolivarianismo. Em segundo lugar, mostra que os donos do poder na Venezuela enxergam inimigos por todos os lados, a começar pela sua própria casa.

Maduro tem condições de permanecer no poder?

O regime de Maduro está podre. O fim trágico pode demorar meses, mas certamente acontecerá. O chanceler do imperador Napoleão dizia ao seu chefe, por volta de 1812: "As baionetas servem para muitas coisas, menos para sentar em cima delas". Não se pode governar só com a força, sem apoio popular.

As reformas de Álvaro Uribe na Colômbia são demonizadas pelo regime bolivariano. Por quê?

Eu diria que a Colômbia é o contraexemplo do chavismo. Nos anos 80, a Colômbia chegou ao fundo do poço. Era um país dilacerado pela guerra civil. Estava balcanizado em três regiões: ao norte dominavam as "autodefesas" (milícias); no centro, o governo; no Sul, as Farc. E o cidadão no meio do fogo cruzado. Mais de 9 milhões saíram do país. Mas então os municípios decidiram fazer um pacto de sobrevivência. E os aglutinadores da transformação foram os empresários, por meio das câmaras de comércio.

O que de fato significa a expressão "socialismo bolivariano"?

Chávez quis implantar o modelo cubano militarizado, inspirado em Rousseau. Em O Contrato Social, Rousseau dá a receita: quem quiser implantar a democracia deve partir para a criação da unanimidade. Esta é a condição da felicidade geral da nação. Quem implanta a unanimidade deve destruir a dissidência. Não foi por acaso que os jacobinos inventaram a maquininha de cortar as cabeças de dissidentes na Revolução Francesa. Infelizmente, a Venezuela bolivariana herdou isso. Bolívar era um jovem aristocrata cujo professor era um maluco chamado Don Simon Rodríguez, que decidiu formar seu pupilo com os princípios de Rousseau. Bolívar era um gênio militar, sem dúvida, mas não sabia lidar com a política. Queria a unanimidade. Rousseau foi um semeador de desgraças. Ele falava nos "comitês de salvação pública", que foram adotados pelos revolucionários franceses e depois inspiraram os bolcheviques e os maoístas. A base do regime cubano está nos "conselhos de defesa da revolução", que operam em cada quarteirão e perseguem todos os dissidentes. Chávez também criou os seus comitês revolucionários.

Como operam esses comitês?

A Venezuela fez uma joint-venture com a Rússia e abriu uma fábrica de fuzis Kalashnikov; com isso, está armando conselhos e milícias. Vai terminar acontecendo um grande banho de sangue. São mais de 200 mil milicianos armados até os dentes. Cuba está enviando especialistas em guerrilha urbana – "Avispas Negras" – para tumultuar os movimentos de oposição. São agentes provocadores e instigam a violência para depois culpar os jovens manifestantes. O chavismo tenta assim fabricar a unanimidade – e a única unanimidade que o ser humano pode ter é a do cemitério.

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