Venezuelanos em um campo de refugiados em Boa Vista| Foto: Gui Christ/ Washington Post

Quase uma centena de venezuelanos partiram de Lima em direção a Caracas neste sábado, em um retorno atípico, financiado pela gestão do ditador Nicolás Maduro e que as autoridades peruanas descreveram como "operação de propaganda" do governo venezuelano para tentar encobrir a crise humanitária que o país sul-americano está vivenciando.

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O avião da estatal venezuelana Conviasa levantou voo com 90 venezuelanos, entre eles doentes, mulheres grávidas e crianças. Sandybell Barrios, venezuelana de 30 anos que fazia parte do grupo, comentou que estava voltando a seu país porque não encontrou emprego formal no Peru e sofreu assédio sexual nas ruas de Lima, enquanto sobrevivia vendendo café. "Eu tomei a decisão de voltarao meu país porque, embora esteja passando por uma crise, acho que todos os países passaram por crises", disse.

Outros venezuelanos entrevistados durante a semana, enquanto realizavam os procedimentos para retornar à Venezuela, indicaram que a decisão de retornar não era fácil, mas era melhor estar na Venezuela, onde tinham uma rede familiar que poderia ajudá-los.

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O Peru tem uma taxa de informalidade de trabalho superior a 70% e, de acordo com pesquisas da Organização Internacional para as Migrações, 85% dos venezuelanos que emigraram para o país estão trabalhando em condições informais.

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Este foi o terceiro voo do plano de retorno de imigrantes do governo venezuelano chamado "Regresso à Pátria". O primeiro saiu do Peru em 28 de agosto, com 89 pessoas. Outro voo semelhante foi feito a partir do Equador na quarta-feira, com 92 imigrantes.

O Peru chamou os voos de retorno de "operação de propaganda" do governo de Maduro. O vice-ministro do exterior peruano, Hugo de Zela, declarou na última quarta-feira que o avião que partiria de Lima no sábado com venezuelanos corresponde "mais ou menos ao número de venezuelanos que, na taxa atual, chega ao Peru em meia hora". Mais de 414 mil venezuelanos vivem no Peru, de acordo com as autoridades de imigração do país.

Cifras do governo

Na semana passada, o ditador Nicolas Maduro transmitiu uma mensagem cadeia nacional afirmando que ordenou criar uma ponte aérea para “garantir o retorno de venezuelanos que haviam emigrado em meio à severa crise econômica que atravessa o país e que agora querem regressar”. Segundo ele, em países como Colômbia, Peru e Equador está se desenvolvendo “uma campanha de ódio e de perseguição” contra os venezuelanos.

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Na sexta-feira (7), o vice-ministro de Comunicação Internacional do regime, William Castillo, assegurou que em dez dias (entre 28 de agosto e 6 de setembro) 1.605 venezuelanos recorreram ao programa “Regresso à Pátria” para voltar ao país, segundo informações da rede de televisão pró-Maduro Telesur

A maioria teria retornado do Brasil, cruzando a fronteira por terra – 1.404, de acordo com as cifras apresentadas pelo governo na sexta. Cem teriam regressado do Peru, 92 do Equador, cinco da República Dominicana, dois do Chile, um da Colômbia e um do Panamá.

Repórteres do site G1 em Roraima informaram que neste sábado (8) 100 imigrantes venezuelanos que viviam nas ruas e em abrigos de Boa Vista retornaram ao país natal em um ônibus fretado pelo regime Maduro. Nenhum quis conceder entrevista, segundo a reportagem, mas garantiram que a repatriação foi “por livre e espontânea vontade”.

O regresso à Venezuela ocorreu dois dias depois que um brasileiro e um venezuelano morreram após uma confusão supostamente causada por um furto em um mercado. Testemunhas contam que o brasileiro tentou enfrentar o venezuelano que supostamente havia furtado um supermercado, mas acabou levando uma facada e morreu. O venezuelano foi linchado por um grupo de brasileiros que viu a cena. A Polícia Civil está investigando o caso.

Mais de 1,6 milhão de venezuelanos deixaram seu país desde o início de 2015 e 90% deles ficaram na América do Sul, segundo estimativas da ONU. A Organização dos Estados Americanos (OEA) considera que este é o "maior êxodo do Hemisfério Ocidental". O governo da Venezuela não reconhece esses números. Esta semana, Maduro disse que não há mais de 600 mil venezuelanos que deixaram o país e afirmou que "mais de 90% estão arrependidos".

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