Desde o ataque terrorista em uma casa de concertos de Moscou, em 22 de março, o regime russo liderado por Vladimir Putin tem aumentado a repressão dentro do país contra imigrantes.
O principal motivo que explica essa mobilização crescente contra estrangeiros é o fato de quatro acusados pelo atentado terem sido identificados pelas autoridades russas como cidadãos do Tajiquistão, uma antiga república soviética da Ásia Central. De acordo com as declarações do governo na ocasião, os detidos estavam na Rússia com vistos de trabalho temporário, alguns expirados.
Os primeiros efeitos dessa política de perseguição do Kremlin foram vistos dias depois do massacre reivindicado por uma frente do Estado Islâmico, que pegou as autoridades do país de surpresa e provocou uma crise na imagem da inteligência russa, pela falta de prevenção ao crime perpetrado por terroristas. Já no final de março, o regime prendeu cerca de 40 migrantes numa região a 60 quilômetros da capital russa.
Nesse mesmo período, a imprensa russa noticiou que uma barbearia na cidade de Ivanovo, onde trabalhava um dos supostos terroristas, foi alvo de ataques. A proprietária da loja disse a jornalistas que recebeu diversas ameaças de morte pelo telefone, com mensagens de teor xenofóbico.
Órgãos ligados à segurança interna e migração do país também conduziram uma série de operações visando perseguir estrangeiros que residem no país do leste europeu. As autoridades fizeram buscas em massa e acusações contra pessoas por supostamente violarem as leis de migração. Como resultado, quase 500 pessoas já receberam ordens de expulsão do país desde o ataque terrorista em Moscou.
Muitos imigrantes que vivem na Rússia vem do Tajiquistão, Uzbequistão e Quirguistão. Com a crescente perseguição no mês passado, os governos desses países emitiram declarações aconselhando seus cidadãos a não participarem de manifestações ou qualquer evento com aglomeração pelo risco de serem perseguidos ou sofrerem algum ato de violência.
As medidas tomadas pelo regime russo colocam o ditador Putin em uma posição cada vez mais delicada, visto que imigrantes ocupam papéis essenciais no mercado de trabalho, especialmente enquanto o país está em guerra.
O chefe do Kremlin tenta invisibilizar a situação a fim de manter a unidade nacional e uma boa imagem de um líder moderado, que representa os mais de 190 grupos étnicos da Rússia. No entanto, a perseguição aos estrangeiros está cada vez mais evidente.
Dias depois do massacre em Moscou, o procurador-geral, Igor Krasnov, afirmou, sem base probatória, que o número de crimes cometidos por imigrantes na Rússia tinha aumentado 75% no último ano. A afirmação contradiz os dados oficias fornecidos pelo Ministério do Interior russo, que indicam uma queda de 9% no período destacado por Krasnov.
A ONG Human Rights Watch afirma que antes mesmo do atentado de março, a perseguição a estrangeiros na Rússia já era constante. Um relatório elaborado no ano passado revela que a polícia russa traça perfis raciais de migrantes não eslavos e de minorias étnicas, submetendo-os a verificações de identidade infundadas e a detenções muitas vezes prolongadas.