As forças militares e de segurança sírias não pouparam nem mesmo as crianças na dura repressão às manifestações contra o governo do ditador Bashar Assad. Essa é uma das conclusões do relatório da Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU sobre a Síria, entregue ontem ao Alto Comissariado para Direitos Humanos pelo coordenador do texto, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro. Mesmo não tendo visitado a Síria sua entrada foi negada pelas autoridades locais, apesar de insistentes pedidos , ele compilou denúncias a partir de depoimentos de 223 vítimas e testemunhas.
Segundo o relatório de Pinheiro, entre março (início da revolta contra Assad) e 9 de novembro, 256 crianças foram mortas no país e um número inestimado delas foi torturada e violentada sexualmente em prisões do país. O relatório lista "crimes contra a humanidade". Para Pinheiro, é "muito espantoso" o número de vítimas crianças.
O texto cita o caso de dois garotos, de 13 e 14 anos, torturados e mortos numa instalação da Força Aérea em Damasco, e de um jovem de 15 anos que foi abusado sexualmente na prisão diante do pai.
Mas há ainda informações sobre execuções sumárias, prisões arbitrárias, desaparições forçadas e outros tipos de tortura, como eletrochoques e privação de comida.
O relatório foi feito com base em depoimentos de vítimas e testemunhas de violações de direitos humanos, a maioria deles civis e não militantes. Foram ouvidos também desertores das forças militares e de segurança.
"Os testemunhos dão uma visão aguda e completa das violações contra os direitos humanos na Síria", disse Pinheiro.
O relatório destaca, porém, a impossibilidade de verificar in loco a intensidade do combate entre forças armadas sírias e outros grupos armados.
Um novo relatório será entregue em março de 2012, e o grupo seguirá pedindo permissão para ir ao país. Após a divulgação, EUA e a União Europeia exigiram novamente uma transição de governo.
Na capital Damasco, ontem, milhares de sírios se manifestaram contra a decisão da Liga Árabe de impor sanções ao regime de Assad. "O povo quer Bashar Assad, nós somos o povo de Bashar", gritava a multidão.
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